sábado, 13 de junho de 2020

Santo Franciscano do dia -13/06 - Santo Antônio de Pádua


Sacerdote, doutor Evangélico da Primeira Ordem (1191-1231). Canonizado por Gregório IX no dia 30 de maio de 1232 

Antônio de Pádua ou – como também é conhecido – de Lisboa, referindo-se à sua cidade natal. Trata-se de um dos santos mais populares de toda a Igreja Católica, venerado não somente em Pádua, onde se erigiu uma esplêndida basílica que recolhe seus restos mortais, mas no mundo inteiro. São queridas dos fiéis as imagens e estátuas que o representam com o lírio, símbolo da sua pureza, ou com o Menino Jesus nos braços, lembrando uma aparição milagrosa mencionada por algumas fontes literárias.

Antônio contribuiu de maneira significativa para o desenvolvimento da espiritualidade franciscana, com seus fortes traços de inteligência, equilíbrio, zelo apostólico e, principalmente, fervor místico.

Ele nasceu em Lisboa de uma família nobre, por volta de 1195, e foi batizado com o nome de Fernando. Começou a fazer parte dos cônegos que seguiam a regra monástica de Santo Agostinho, primeiro no mosteiro de São Vicente, em Lisboa, e depois no da Santa Cruz, em Coimbra, renomado centro cultural de Portugal. Dedicou-se com interesse e solicitude ao estudo da Bíblia e dos Padres da Igreja, adquirindo aquela ciência teológica que o fez frutificar nas atividades de ensino e na pregação.

Em Coimbra, aconteceu um fato que marcou uma mudança decisiva em sua vida: em 1220, foram expostas as relíquias dos primeiros cinco missionários franciscanos que haviam se dirigido a Marrocos, onde encontraram o martírio. Este acontecimento fez nascer no jovem Fernando o desejo de imitá-los e de avançar no caminho da perfeição cristã: então ele pediu para deixar os cônegos agostinianos e converter-se em frade menor. Sua petição foi acolhida e, tomando o nome de Antônio, também ele partiu para Marrocos, mas a Providência divina dispôs outra coisa.

Por causa de uma doença, ele se viu obrigado a voltar à Itália e, em 1221, participou do famoso “Capítulo das Esteiras” em Assis, onde também encontrou São Francisco. Depois disso, viveu por algum tempo escondido totalmente em um convento perto de Forlì, no norte da Itália, onde o Senhor o chamou para outra missão. Convidado, por circunstâncias totalmente casuais, a pregar por ocasião da uma ordenação sacerdotal, Antônio mostrou estar dotado de tal ciência e eloquência, que os superiores o destinaram à pregação. 

Ele começou assim, na Itália e na França, uma atividade apostólica tão intensa e eficaz, que levou muitas pessoas que haviam se separado da Igreja a voltar atrás. Esteve também entre os primeiros professores de teologia dos Frades menores, talvez inclusive o primeiro. Começou a lecionar em Bolonha, com a bênção de Francisco, o qual, reconhecendo as virtudes de Antônio, enviou-lhe uma breve carta com estas palavras: “Eu gostaria que você lecionasse teologia aos frades”. Antônio colocou as bases da teologia franciscana que, cultivada por outras insignes figuras de pensadores, teria conhecido seu zênite com São Boaventura de Bagnoregio e o beato Duns Scotus.

Nomeado como superior provincial dos Frades Menores da Itália Setentrional, continuou com o ministério da pregação, alternando-o com as tarefas de governo. Concluído o mandato de provincial, retirou-se perto de Pádua, onde já havia estado outras vezes. Depois de apenas um ano, morreu nas portas da Cidade, no dia 13 de junho de 1231. Pádua, que o havia acolhido com afeto e veneração em vida, prestou-lhe sempre honra e devoção. O próprio Papa Gregório IX – que, depois de tê-lo escutado pregar, definiu-o como “Arca do Testamento” – canonizou-o em 1232, também a partir dos milagres ocorridos por sua intercessão.

No último período da sua vida, Antônio escreveu dois ciclos de “Sermões”, intitulados, respectivamente, “Sermões dominicais” e “Sermões sobre os santos”, destinados aos pregadores e professores de estudos teológicos da ordem franciscana. Neles, comentou os textos da Sagrada Escritura apresentados pela liturgia, utilizando a interpretação patrístico-medieval dos quatro sentidos: o literal ou histórico, o alegórico ou cristológico, o tropológico ou moral e o analógico, que orienta à vida eterna. Trata-se de textos teológicos-homiléticos, que recolhem a pregação viva, na qual Antônio propõe um verdadeiro e próprio itinerário de vida cristã. É tanta a riqueza de ensinamentos espirituais contida nos “Sermões”, que o venerável Papa Pio XII, em 1946, proclamou Antônio como Doutor da Igreja, atribuindo-lhe o título de “Doutor Evangélico”, porque destes escritos surge a frescura e beleza do Evangelho; ainda hoje podemos lê-los com grande proveito espiritual.

Nos “Sermões”, ele fala da oração como uma relação de amor, que conduz o homem a conversar docemente com o Senhor, criando uma alegria inefável, que envolve suavemente a alma em oração. Antônio nos recorda que a oração precisa de uma atmosfera de silêncio, que não coincide com o afastamento do barulho externo, mas é experiência interior, que procura evitar as distrações provocadas pelas preocupações da alma. Segundo o ensinamento deste insigne Doutor franciscano, a oração se compõe de quatro atitudes indispensáveis que, no latim de Antônio, definem-se como: obsecratio, oratio, postulatio, gratiarum actio. Poderíamos traduzi-las assim: abrir com confiança o próprio coração a Deus, conversar afetuosamente com Ele, apresentar-lhe as próprias necessidades, louvá-lo e agradecer-lhe.

Neste ensinamento de Santo Antônio sobre a oração, conhecemos um dos traços específicos da teologia franciscana, da qual ele foi o iniciador, isto é, o papel designado ao amor divino, que entra na esfera dos afetos, da vontade, do coração, e que é também a fonte de onde brota um conhecimento espiritual que ultrapassa todo conhecimento. Antônio escreve: “A caridade é a alma da fé, é o que a torna viva; sem o amor, a fé morre” (Sermões Dominicais e Festivos II).

Só uma alma que reza pode realizar progressos na vida espiritual: este foi o objeto privilegiado da pregação de Santo Antônio. Ele conhecia bem os defeitos da natureza humana, a tendência a cair no pecado; por isso, exortava continuamente a combater a inclinação à cobiça, ao orgulho, à impureza e a praticar as virtudes da pobreza e da generosidade, da humildade e da obediência, da castidade e da pureza.

No começo do século XIII, no contexto do renascimento das cidades e do florescimento do comércio, crescia o número de pessoas insensíveis às necessidades dos pobres. Por este motivo, Antônio convidou os fiéis muitas vezes a pensar na verdadeira riqueza, a do coração, que, tornando-os bons e misericordiosos, leva-os a acumular tesouros para o céu. “Ó ricos – exorta – tornai-vos amigos (…); os pobres, acolhei-os em vossas casas: serão depois eles que os acolherão nos eternos tabernáculos, onde está a beleza da paz, a confiança da segurança e a opulenta quietude da saciedade eterna” (Ibid.).

Antônio, na escola de Francisco, sempre coloca Cristo no centro da vida e do pensamento, da ação e da pregação. Este é outro traço típico da teologia franciscana: o cristocentrismo. Alegremente, ela contempla e convida a contemplar os mistérios da humanidade do Senhor, particularmente o do Natal, que suscitam sentimentos de amor e gratidão pela bondade divina.

Também a visão do Crucificado lhe inspira pensamentos de reconhecimento a Deus e de estima pela dignidade da pessoa humana, de forma que todos, crentes e não crentes, possam encontrar um significado que enriquece a vida. Antônio escreve: “Cristo, que é a tua vida, está pregado diante de ti, porque tu vês a cruz como em um espelho. Nela poderás conhecer quão mortais foram tuas feridas, que nenhum remédio teria podido curar, a não ser o sangue do Filho de Deus. Se olhas bem, poderás perceber quão grandes são tua dignidade e teu valor (…). Em nenhum outro lugar o homem pode perceber melhor o quanto vale, a não ser no espelho da cruz” (Sermões Dominicais e Festivos III).

Que Antônio de Pádua, tão venerado pelos fiéis, interceda pela Igreja inteira, sobretudo por aqueles que se dedicam à pregação. Que estes, inspirando-se em seu exemplo, procurem unir a doutrina sã e sólida, a piedade sincera e fervorosa e a incisividade da comunicação.

Papa Bento XVI

quinta-feira, 30 de abril de 2020

Artigo - Francisco de Assis e a alegria espiritual.


POR FREI VITÓRIO MAZZUCO FILHO

Na segunda vida de Tomás de Celano temos o relato: “Este santo afirmava que o remédio mais seguro contra as mil insídias e astúcias do inimigo é a alegria espiritual (...) O demônio exulta, acima de tudo, quando pode surrupiar ao servo de Deus a alegria do espírito. Ele leva um pó que possa jogar, o mais possível, nas pequenas frestas da consciência e sujar a candura da mente e a pureza da vida. Mas, quando a alegria espiritual enche os corações, em vão a serpente derrama o veneno letal (...) Quando, porém, o espírito está choroso, desolado e tristonho, é facilmente absorvido pela tristeza ou levado a alegrias vãs. Por conseguinte, o santo esforçava-se por manter-se sempre na alegria do coração, por conservar a unção do espírito e o óleo da alegria. Com o máximo cuidado evitava a péssima doença da tristeza, de modo que, quando a sentia a penetrar na mente, ainda que um pouquinho, corria o mais depressa possível à oração” (2Cel 125).

Numa marchinha de carnaval antiga, pedia-se que o guarda colocasse para fora do salão quem jogasse pós de mico na alegria dos outros. O demônio, isto é, a contrariedade da vida, a encarnação do espírito do mal em alguns detalhes da vida, gosta de sujar a serenidade. Nós gostamos de jogar o pó da negatividade na fluência natural da vida. Levantamos com notícias tristes e trágicas e deixamos que elas sejam a opaca lente de nosso olhar. No café da manhã trocamos receitas de psicotrópicos; almoçamos fazendo uma atualização das mortes acontecidas; jantamos notícias de uma cidade alerta contra um onipresente perigo. Vemos o mal no porteiro, na cuidadora, no rapaz que veio instalar a Net, no cachorro da vizinha e em todas as comidas que saboreamos porque acreditamos que tudo faz mal! Se damos espaço a isso sufocamos a alegria espiritual.

Francisco nos ensina que diante da doença, da tristeza, possamos correr o mais depressa possível à oração. Dividir preocupações de um modo orante é o salmo da cura em meio a tormentos. Almas que rezam têm a serena alegria dos que confiam. Na oração do salmista tem sempre uma saída para as tristezas do mundo. Alegria vã é alegria vazia. Os vãos são espaços vazios que precisam ser preenchidos. Que tal encher o vazio com preces?

Extraído de: http://carismafranciscano.blogspot.com.br/

Imagem do artista plástico carioca Vagner Aniceto http://www.vagneraniceto.com.br/

Santo franciscano do dia - 30/04 - São José Benedito Cottolengo


Sacerdote da Terceira Ordem (1786-1842). Fundador de Congregações masculinas e femininas. Canonizado por Pio XI no dia 19 de março de 1934. 

Nasceu no dia 3 de Maio de 1786 em Bra, na região de Piedmonte, Itália, de uma família da classe média e estudou em um seminário em Turim. Ordenou-se em 1811. Foi pároco em Bra e em Corneliano. Em Turim, graduou-se em Teologia e se inscreveu na Terceira Ordem Franciscana.
Uma noite foi chamado à cama de uma mulher pobre e doente em trabalho de parto. A mulher necessitava desesperadamente de ajuda médica, mas para todos os lados que ia não encontrava ajuda por falta de dinheiro. José ficou com ela durante todo trabalho e ouviu dela a confissão, deu sua absolvição e a comunhão e a unção dos enfermos. Batizou a pequena criança e os olhava boquiaberto enquanto ambos morriam na cama. O trauma mudou a sua vida e a sua vocação.

Em 1827 ele, fundou um abrigo para os doentes e pobres, alugando uma casa e enchendo os quartos com camas e procurando homens e mulheres voluntárias. O local se expandiu e ele recebeu ajuda dos Irmãos de São Vicente e das Irmãs Vicentinas. Durante a cólera de 1831, a polícia local fechou o hospital pensando que era a origem da doença.

Em 1832, ele transferiu a operação para Valdocco e chamou o Abrigo de Pequena Casa da Divina Providência. A Casa começou a receber apoio e suporte e cresceu em asilos, orfanatos, hospitais, escolas, casa de aprendizado para pobres e capelas. Vários programas para o pobres, doentes e necessitados de todos os tipos foram criados. Esta pequena Vila dependia totalmente das almas caridosas e José não aceitava ajuda oficial do Estado. A casa ainda funciona até hoje, servindo a oito mil pessoas ou mais por dia. Ele fundou ainda 14 comunidades para os residentes, inclusive as Filhas da Companhia do Bom Samaritano, os Eremitas do Santo Rosário e os Padres da Santíssima Trindade.


Faleceu em 30 de abril de 1842 de tifo em Chieri, Itália. Foi canonizado em 1934 pelo Papa Pio XI.

segunda-feira, 6 de abril de 2020

Artigo - Seis dias antes da Páscoa…


Segunda-feira Santa


Estamos em plena semana santa. Nossa atenção se volta para os últimos momentos da vida do Senhor Jesus, nossa esperança, nosso redentor e esposo de nossos corações. Sabemos perfeitamente que evocando os momentos da vida do Senhor, mormente, o que está ligado à sua paixão e morte, automaticamente, nosso pensamento voa para a noite da luminosidade, para o dia que o Senhor fez para nós, para páscoa. Não somos discípulos do Cristo morto, mas do que reviveu para sempre.

Aquele que amamos, aquele que vai ocupando, aos poucos, todos os espaços do que chamamos de vida espiritual é o eleito do Pai, o Filho muito amado, no qual o Pai se compraz. Esse servo descrito por Isaías tem tudo a ver com o Esposo e Amado de nosso coração. “Ele não clama nem levanta a voz, nem se faz ouvir pelas ruas… não esmorecerá nem se deixará abater…. eu o constitui como centro da aliança do povo, como luz das nações, para abrires os olhos dos cegos, tirar os cativos da prisão, livrar do cárcere os que vivem nas trevas”.
No final dessa semana, uma claridade banhará a terra. Aquele que vai ser transfixado será luminosamente transfigurado.

O salmo de meditação (Sl 26) pode ser colocado nos lábios e no coração de Jesus: “O Senhor é minha luz e minha salvação; de quem eu terei medo? O Senhor é a proteção da minha vida, perante quem eu tremerei? (…) Sei que a bondade do Senhor eu hei de ver na terra dos viventes. Espera no Senhor e tem coragem, espera no Senhor!”. Na silenciosa meditação desses dias escutamos a voz do Amado: “O Senhor é minha luz e minha salvação!”.

Seis dias antes da Páscoa o Senhor foi a Betânia. Tinha o coração cheio de interrogações e de apertos. Antes de subir para Jerusalém queria ter a alegria do conforto do encontro com amigos de verdade: Marta, Maria e Lázaro. Estes ofereceram-lhe um jantar, esse momento de calma em que os corações tinham tempo para escutar os sons do interior: apreensão, incentivo e desejo de coragem, vontade de estar com gente fiel. E uma mulher inopinadamente resolve quebrar um frasco de perfume. Judas se mostrou incomodado com tal desperdício. Onde se viu? Tantos necessitados e aquele gasto à toa. O peito de Jesus quase que a estalar de dor teve ainda força de dizer energicamente: “Deixa-a, ela fez isto em vista da minha sepultura. Pobres sempre tereis convosco, enquanto a mim nem sempre me tereis”.

Tudo isso se passou seis dias antes da Páscoa…

Frei Almir Ribeiro Guimarães

sexta-feira, 19 de outubro de 2018

São Pedro de Alcântara - O “Padroeiro do Brasil”



Frei Pedro nasceu em Alcântara (Cáceres, Espanha) em 1499. Filho de Alonso Garabito e de Maria Vilela, recebeu no batismo o nome de Juan de Sanabria. Depois de três anos de estudos em Salamanca (1511-1515), entrou na Ordem Franciscana, na Custódia do Santo Evangelho (1516), que mais tarde, em 1520, se converteria em Província de São Gabriel. Em Majarretes (Badajoz), lugar de seu noviciado, nasceu um novo homem: Juan de Sanabria se transformou em Pedro de Alcântara.

Pouco depois, em 1519, um pouco antes de ser ordenado sacerdote, foi enviado como superior para fundar o Convento de Badajoz. Completados os estudos de filosofia, teologia, direito canônico, moral e homilética, conforme as determinações da época, foi ordenado sacerdote em 1524. Tornou-se superior em Robledillo, depois em Placencia e novamente em Badajoz, até que em 1532 obteve permissão para recolher-se a uma vida mais contemplativa no convento de Santo Onofre da Lapa. Em 1538 foi eleito Ministro Provincial da Província de São Gabriel.

Durante o período em que foi ministro provincial redigiu para seus religiosos estatutos muito severos, aprovados no Capítulo de Placencia, em 1540. Mas o começo de sua reforma teve lugar em 1544 quando, com o consentimento de Julio III, retirou-se para a pequena igreja de Santa Cruz de Cebollas, próximo de Coira. Em 1555 construiu o célebre convento de Pedroso, seguido de outros. A partir deste momento, a reforma prosperou amplamente e, em 8 de maio de 1559, obteve a aprovação de Paulo IV, que permitiu sua difusão também no exterior.

Pedro de Alcântara, com sua reforma, queria trazer de volta a Ordem Franciscana à genuína observância da Regra. Mediante a suma pobreza, a rígida penitência e um sublime espírito de oração alcançou os mais altos graus de contemplação e pode atrair numerosos franciscanos por aquele caminho de reforma que se propunha fazer reviver em seu século o franciscanismo dos primeiros tempos.

Foi confessor e diretor espiritual de Santa Teresa de Ávila e ajudou na reforma da Ordem Carmelita. Santa Teresa escreveu sobre ele: “Modelo de virtudes era Frei Pedro de Alcântara! O mundo de hoje já não é capaz de uma tal perfeição. Este homem santo é de nosso tempo, mas seu fervor é forte como de outros tempos. Tem o mundo a seus pés. Que valor deu o Senhor a este santo para fazer durante 47 anos tão rígida penitência!”.

Depois de uma grande atividade eremítica e apostólica, morreu em Arenas de San Pedro (Ávila), no dia 18 de outubro de 1562, aos 63 anos. Em 1622 foi beatificado por Gregório XV e, em 1669, foi canonizado por Clemente IX. Em 1826 foi declarado Padroeiro do Brasil.

Logo após a Independência, Dom Pedro I entendeu que o Brasil precisava ter um santo padroeiro oficialmente autorizado pelo Papa, embora ele, Dom Pedro I, já tivesse feito a consagração do Brasil a Nossa Senhora Aparecida, em Aparecida do Norte, em sua vinda de São Paulo para o Rio, logo após o 7 de Setembro. Assim, solicitou ao Papa que fizesse de São Pedro de Alcântara o Padroeiro do Brasil, tendo o Papa concordado.

Com a proclamação da República, São Pedro de Alcântara foi discretamente esquecido, provavelmente porque seu nome lembrava o dos imperadores e, além disso, mostrava o quanto havia de positiva ligação entre o Império e a religião. Porém, seu nome ainda continuou, por muito anos a ser lembrado nos missais mais tradicionais. E foi num destes missais, mais tradicionais, que se encontra a oração transcrita a seguir, a São Pedro de Alcântara, Padroeiro do Brasil, conforme consta no índice do missal citado (“Adoremus – Manual de Orações e Exercícios Piedosos” – Por Dom Frei Eduardo, O.F.M. – XX Edição Bahia – Tipografia de São Francisco – 1942).

Oração a São Pedro de Alcântara, Padroeiro do Brasil
(pág.284 do missal citado)

Ó grande amante da Cruz e servo fiel do divino Crucificado, São Pedro de Alcântara; à vossa poderosa proteção foi confiada a nossa querida Pátria brasileira com todos os seus habitantes. Como Varão de admirável penitência e altíssima contemplação, alcançai aos vossos devotos estes dons tão necessários à salvação. Livrai o Brasil dos flagelos da peste, fome e guerra e de todo mal. Restituí à Terra de Santa Cruz a união da fé e o verdadeiro fervor nas práticas da religião.
De modo particular, vos recomendamos, excelso Padroeiro do Brasil, aqueles que nos foram dados por guias e mestres: os padres e religiosos. Implorai numerosas e boas vocações para o nosso país. Inspirai aos pais de família uma santa reverência a fim de educarem os filhos no temor de Deus não se negando a dar ao altar o filho que Nosso Senhor escolher para seu sagrado ministério.

Assisti, ó grande reformador da vida religiosa, aos sacerdotes e missionários nos múltiplos perigos de que esta vida está repleta. Conseguí-lhes a graça da perseverança na sublime vocação e na árdua tarefa que por vontade divina assumiram.

Lá dos céus onde triunfais, abençoai aos milhares de vossos protegidos e fazei-nos um dia cantar convosco a glória de Deus na bem-aventurança eterna. Assim seja!

quarta-feira, 3 de outubro de 2018

Especial São Francisco de Assis




O fascínio que Francisco exerce há oito séculos.

Do outro lado deste encontro emerge um homem impressionante. O fascínio que ele exerce sobre os homens, séculos depois de sua morte, transpõe as fronteiras do Cristianismo. Grandes e pequenos reverenciam-no com palavras de invulgar admiração. O que o torna assim tão simpático aos olhos dos homens não é tanto o fato de ser ele um santo da cristandade católica, o inspirador de inúmeras comunidades religiosas. Destes, há vários outros exemplos, também admiráveis. Antes, a razão precípua é sua humanidade, simplesmente. Efetivamente, nele vemos o que é o ser humano, quando, historicamente, se realizam as suas mais belas possibilidades: não um conglomerado de egoísmos, rigidez, baixezas e pecados, mas uma figuração de bondade, fineza, cortesia, ternura e compaixão, sim, uma imagem e semelhança de Deus mesmo. Sua humildade desfeita de toda sofisticação, sua afabilidade sincera para com todos, sua singela inocência, sem prepotências e maldade, sua largueza de alma pela qual acolhe a todos como irmãos e irmãs, seu reverente entusiasmo para com o mundo e suas criaturas, o jeito pacífico e portador da paz que o faz próximo de todos, o respeito com que trata todos os seres, do sol magnífico à inexpressiva erva, com gestos e palavras tão poéticas, enfim, seu amor sem fronteiras, é isso, sobretudo, que faz de Francisco esse homem notável e a razão do fascínio que ele exerce sobre todos.

“Há neste homem algo de límpido e de luminoso que se impõe como uma presença… Alguns são seduzidos pela criança e pelo poeta ingênuo, simples, fraterno, entre os seres vivos. Move-se entre os homens e as coisas como homem livre, desapegado, despretensioso, com um desembaraço e uma ternura que deixa a cada um a liberdade de viver. Irmão de todos, provoca-os ao melhor de si mesmo. Sem dominação e sem pretensão alguma, ensina-lhes como tornar-se homens de reconciliação, servidores uns dos outros. Atento, por intuição e por afinidade secreta, a seu tempo e aos acontecimentos, que os atinge e lhes  traz com facilidade surpreendente, uma resposta ao nível mais profundo” (T. Matura, O projeto evangélico de Francisco de Assis…, 13).

Dele diz o renomado ensaísta e literato inglês Gilberto Keith Chesterton: “Podemos descrever este divino demagogo como o único e verdadeiramente sincero e conseqüente democrata do mundo…”(Cf. G. K. Chesterton, Franziskus, der Heilige von Assis, 1923)

A seu amigo Vittorio Bodo, Wadimir I. Lênin, o grande líder da Revolução Russa, do seu leito de morte, teria confessado: “Eu me enganei. Sem dúvida era necessário libertar a massa dos oprimidos. Mas nossos métodos tiveram como conseqüência outras opressões e terríveis  massacres. Tu sabes que estou mortalmente doente. Meu pesadelo é sentir-me num oceano de sangue de incontáveis vítimas. Para salvar nossa Rússia – agora é tarde demais para  voltar atrás – precisaríamos de dez Francisco de Assis” (Lênin, am Ende seines Lebens – 1924).

Pannaghiotis Kanellopoulos, intelectual e político grego: “Hoje, depois de oito séculos de  história… podemos afirmar que Francisco representa a mais doce figura humana que a Europa gerou. A sua vida e a sua poesia são qualquer coisa de único na história. Mas é possível distinguir a vida de Francisco de sua poesia? A sua própria vida, como a apresentam os imortais Fioretti é uma contínua poesia” (P. Kanellopoulos, La storia dello spirito europeo, vol. I Atenas 1958, 208).

Deste homem, Sigmund Freud, um dos mais argutos e contumazes críticos da Religião afirma: “Talvez São Francisco de Assis tenha sido quem mais longe foi na utilização do amor para beneficiar um sentimento interno de felicidade… o amor universal pela humanidade e pelo mundo representa o ponto mais alto que o homem pode alcançar” (S. Freud. S. O mal-estar na civilização, in Obras Completas, Vol XXI [1927-1931], Rio de Janeiro: Imago, 1974, 122).

“Tão perfeita imagem de Cristo! Quase um Cristo redivivo” – Pio XI, Papa

“O mais italiano dos santos, o mais santo dos italianos” – Mussolini

Há homens que, vivendo profundamente a problemática do seu tempo e de seu povo, são tão humanos que permanecem como inspiração para todos os tempos e todos os povos. Francisco de Assis é um desses homens raros que, ao longo dos séculos, das latitudes e longitudes, interpelam, questionam, desinstalam” - Dom Hélder Câmara

“Esse, talvez, o maior segredo de São Francisco de Assis. Onde outros dariam ou deram o seu saber, a sua astúcia, a sua coragem, ele deu apenas isso: seu coração. E com isso revolucionou a história. Com a fé de uma criança, renovou a alma de um mundo”. Alceu Amoroso Lima

“São Francisco, pela amigável união que estabeleceu com todas as coisas, parecia ter voltado ao primitivo estado de inocência matinal” - S. Boaventura

“Homem inútil e indigna criatura de Deus, nosso Senhor” – ele mesmo, São Francisco.

terça-feira, 2 de outubro de 2018

Especial São Francisco de Assis



São Francisco: pregação pelo exemplo e pelas obras

Rg Nb 17, 3: Todos os irmãos podem pregar pelas obras.

Rg Nb 16, 6-10: Dos que quiserem ir para entre os sarracenos e outros infièis:
E os irmãos que partirem poderão proceder de duas maneiras espiritualmente com os infiéis: O primeiro modo consiste em abster-se de rixas e disputas, submetendo-se ‘a todos os homens por causa do Senhor’ (1Pd 2,13) e confessando serem cristãos. O outro modo é anunciarem a palavra de Deus quando o julgarem agradável ao Senhor.”

Adm 22, 2: Ai do religioso que não conserva no fundo do seu coração os bens que o Senhor o favorece e aos outros não os manifesta por suas obras, mas antes, na esperança de alguma recompensa, procura mostrá-los aos homens por palavras.

1C 36: Francisco já se havia convencido primeiro na prática das coisas que estava dizendo aos outros em palavras.

1C 93: Sabia que era melhor fazer as coisas perfeitas do que louvá-las, e empenhou esforço e ação nas boas obras, não apenas nas palavras, que mostram o que é bom mas não o realizam.

1C 97: Enchia toda a terra com o Evangelho de Cristo, anunciando a todos o reino de Deus, e edificando os ouvintes tanto pela palavra como pelo exemplo, pois pregava com toda a sua pessoa.

LP, 74: Tanto possui um homem de ciência, quanto aquilo que realiza nas suas obras; e tanto possui um religioso de oração, quanto aquilo que na vida põe em prática.

LP 115: Este privilégio quero ter eu do Senhor: não ter privilégio algum vindo dos homens, a não ser o de para com todos ser reverente e, pela obediência à Santa Regra, mais pelo exemplo do que pela palavra, a todos converter”.

LM 8, 2: Por isso dizia que se deveria deplorar como destituído de verdadeira piedade todo pregador que na pregação procura mais a própria glória do que a salvação das almas, ou que destrói com seu mau exemplo aquilo que ele edifica com a verdade de sua doutrina. Por isso afirmava que se deve preferir sempre um irmão simples e iletrado a semelhante pregador, pois aquele por sua simplicidade e santidade de vida move os outros a praticar o bem.

Abreviaturas:
Rg Nb - Regra Não-bulada (1ª Regra)
Adm - Admoestações
1C – Vida I - Biografia de Tomás de Celano
LP - Legenda Perusina (biografia)