domingo, 26 de fevereiro de 2017

Papa no Angelus: Colocar a confiança em Deus, o grande amigo, o aliado, o Pai.




Cidade do Vaticano (RV) – Diante das tantas preocupações que tiram a nossa serenidade e equilíbrio, devemos confiar-nos a Deus. “Ele não resolve magicamente os problemas, mas permite enfrentá-los com o espírito correto”.

Palavras do Papa Francisco na alocução que precedeu a Oração mariana do Angelus,  inspirada na leitura do Evangelho de Mateus - proposta pela Liturgia do dia - onde somos chamados a fazer uma escolha por Deus e pelo seu Reino, uma escolha “que nem sempre mostra imediatamente seus frutos” e que é feita na esperança.

Deus cuida dos seres da criação, “provê de alimento a todos os animais, preocupa-se pelos lírios e pela erva do campo; o seu olhar benéfico e solícito vigia cotidianamente a nossa vida”.

O Papa recorda que “a angústia” causada pelas preocupações “é muitas vezes inútil”, pois “não consegue mudar o curso dos acontecimentos”. Neste sentido, a insistente exortação de Jesus “a não nos preocupar-nos com o amanhã”, “existe um Pai amoroso que não se esquece nunca de seus filhos. Entregar-se a Ele não resolve magicamente os problemas, mas permite enfrentá-los com o espírito correto, corajosamente”:

“Deus não é um ser distante e anônimo: é o nosso refúgio, a fonte de nossa serenidade e de nossa paz. É a rocha da nossa salvação, a quem podemos agarrar-nos na certeza de não cair. Quem se agarra a Deus não cai, quem se agarra a Deus, não cai nunca! É a nossa defesa do mal, sempre à espreita. Deus é para nós o grande amigo, o aliado, o pai, mas nem sempre nos damos conta disto”.
Não nos damos conta disto, e “preferimos nos apoiar em bens imediatos que podemos tocar, bens contingentes – constata Francisco -  esquecendo, e às vezes rejeitando, o bem supremo, isto é, o amor paterno de Deus”:

“Senti-lo Pai, nesta época de orfandade é tão importante! Neste mundo órfão, senti-lo Pai. Nós nos afastamos do amor de Deus quando vamos em busca obsessiva dos bens terrenos e das riquezas, manifestando assim um amor exagerado por estas realidades”.

“Jesus – recordou o Santo Padre - nos diz que esta busca incansável é ilusória e motivo de infelicidade. E dá aos seus discípulos uma regra de vida fundamental: “Buscai, pelo contrário, o reino de Deus””:

“Trata-se de realizar o projeto que Jesus anunciou no Sermão da Montanha, confiando em Deus que não desilude - tantos amigos ou tantos que acreditávamos amigos, nos desiludiram; Deus nunca desilude - agir como administradores fieis dos bens que Ele nos deu, também os terrenos, mas sem “exagerar”, como se tudo, também a nossa salvação, dependesse somente de nós”.

“Esta atitude evangélica requer uma escolha clara, que a passagem de hoje indica com precisão: “Não podeis servir a Deus e à riqueza”. Ou o Senhor, ou os ídolos fascinantes, mas ilusórios”:

“Esta escolha que somos chamados a fazer, repercute depois em tantos de nossos atos, programas e compromissos. É uma escolha que deve ser feita de modo claro e renovada continuamente, porque as tentações de reduzir tudo a dinheiro, prazer e poder, estão sempre presentes. Existem tantas tentações neste sentido”.

“Enquanto honrar estes ídolos leva a resultados tangíveis, mesmo se fugazes, fazer a escolha por Deus e pelo seu Reino nem sempre mostra imediatamente os seus frutos”:
“É uma decisão que se toma na esperança e que deixa a Deus a plena realização. A esperança cristã é voltada ao cumprimento futuro da promessa de Deus e não se rende diante de alguma dificuldade, porque é fundada na fidelidade de Deus, que nunca falta. É fiel, é um pai fiel, é um amigo fiel, é um aliado fiel”.

A confiança no amor e na bondade do Pai celeste – concluiu o Papa – “é o pressuposto para superar os tormentos e as adversidades da vida, e também as perseguições, como nos mostra o testemunho de tantos nossos irmãos e irmãs”.

Ao saudar os inúmeros grupos e cerca de 30 mil fiéis  presentes na Praça São Pedro, o Papa recordou que na terça-feira, 28 de fevereiro, recorre o “Dia das doenças raras”. Neste sentido, “fez votos de que os pacientes e as suas famílias sejam adequadamente apoiados no difícil percurso, quer a nível médico como legislativo”. (JE)


 Fonte http://br.radiovaticana.va/

Santo franciscano do dia - 26/02 - Santo Antônio de Nagasaki



Mártir da Terceira Ordem (1584-1597). Canonizado por Pio IX no dia 8 de junho de 1862. 


Nasceu em Nagasaki, no Japão, no ano 1584. Seu pai era chinês e sua mãe japonesa. Sua família já era Cristã quando do seu nascimento.
Antônio foi educado pelos franciscanos. Mais tarde, em razão de sua dedicação, interesse e vontade de crescer em Cristo, foi admitido na Ordem Terceira Franciscana.

Mudou-se para Meaco para acompanhar seu superior, o reitor do Seminário de São Jerônimo de Jesus, mais tarde para Osaka.

Quando tinha apenas treze anos foi preso em função da perseguição aos religiosos que atuavam naquele país. Todos os religiosos presos tiveram a suas orelhas esquerdas decepadas, depois foram conduzidos em cortejo para Nagasaki

Faleceram no dia 5 de fevereiro de 1597, em Nagasaki, Japão.

Fonte: “Santos Franciscanos para cada dia”, Ed. Porziuncola.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Franciscana do dia - 23/02 - Bem-aventurada Isabel da França


Virgem da Segunda Ordem (1225-1270). Irmã de São Luís IX. Leão X concedeu ofício e missa em seu louvor no dia 11 de janeiro de 1520. 


Era filha de Luis VIII, Rei da França, e sua esposa Branca de Castela, que com suas notáveis qualidades de piedade, inteligência e energia, soube formar santos também no trono real. A jovem princesa foi iniciada desde pequena na oração e na meditação, numa terna devoção a Deus e a Maria santíssima, e na prática de uma autêntica vida cristã. A escola de virtudes e o exemplo de Branca de Castela deram à Igreja um São Luís IX, Rei da França, e uma Bem-aventurada Branca Isabel. Habilidosa para trabalhos de bordado, ofereceu a várias igrejas trabalhos confeccionados por suas próprias mãos, mostrando assim a sua grande devoção à Sagrada Eucaristia.

Jejuava três dias por semana e sempre se alimentava com parcimônia. Evitava diversões fúteis. Passava os tempos de lazer em companhia do irmão Luís e das damas que tinha ao seu serviço. Visitava com frequência doentes acamados nos hospitais ou nas próprias casas, procurava atender às suas necessidades e incutir-lhes esperança e coragem. Quando por sua vez veio a cair gravemente enferma, a ponto de recear o desfecho mortal, recuperou a saúde graças às orações e aos cuidados de sua santa mãe.

Conrado, filho do Imperador Frederico II, pediu-a em casamento, e tal pedido encheu de alegria sua mãe, seu irmão e até o próprio Papa Inocêncio IV, mas ela declarou que fizera voto de virgindade e de modo nenhum desistiria dessa missão.

Para melhor realizar seu propósito, mandou, em 1261, construir um mosteiro nos arredores de Paris, e para lá foi viver, adotando a regra da Segunda Ordem de Santa Clara. Seguiram-lhe o exemplo várias religiosas que viviam na corte da França. Para essa comunidade ter uma melhor formação franciscana, convidaram a virem juntar-se a elas quatro religiosas de outros mosteiros.

Nesse mosteiro viveu Isabel durante nove anos, celebrizando-o com suas virtudes. Morreu em 23 de fevereiro de 1270, com 45 anos de idade. No momento do seu desenlace, algumas religiosas ouviram cânticos angélicos entoando: “Na paz está sua morada”. São Luís esteve presente no funeral da irmã, e dirigiu palavras de consolação à comunidade de Clarissas.

Fonte: “Santos Franciscanos para cada dia”, Ed. Porziuncola.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Papa na audiência: romper a comunhão com a natureza é romper com Deus.



Cidade do Vaticano (RV) – “Se prestarmos atenção, tudo a nosso redor geme: geme a própria criação, gememos nós seres humanos e geme o Espírito dentro de nós, no nosso coração”: palavras do Papa na Audiência Geral desta quarta-feira (22/02), que volta a ser realizada na Praça S. Pedro.

A catequese do Pontífice aos cerca de 10 mil fiéis foi sobre a esperança cristã e a criação. Francisco recordou que Deus confiou a nós a proteção da natureza para que pudéssemos entrar em relação com Ele, reconhecendo nela o seu vestígio. Porém, quando se deixa levar pelo egoísmo, o ser humano acaba por arruinar inclusive as coisas mais belas.  

“E, infelizmente, a consequência de tudo isso está dramaticamente sob os nossos olhos, todos os dias.” Como exemplo, o Papa falou na água, “que nos dá a vida, mas para explorar os minerais, a água é contaminada e se destrói a criação”. Onde tudo remetia ao Pai Criador e ao seu amor infinito, agora traz o sinal triste e desolador do orgulho e da voracidade humanas.

O Senhor, porém, não nos deixa sós e também esta quadro desolador nos oferece uma perspectiva nova de libertação, de salvação universal.
“Se prestarmos atenção, tudo a nosso redor geme: geme a própria criação, gememos nós seres humanos e geme o Espírito dentro de nós, no nosso coração”,  prosseguiu o Papa. Esses gemidos não são uma lamentação estéril, desconsolada, mas – como destaca o Apóstolo – são os gemidos de uma mulher prestes a dar à luz; são gemidos de quem sofre, mas sabe que está para chegar uma nova vida. “E no nosso caso é realmente assim.”

O cristão não vive fora do mundo, sabe reconhecer na própria vida e naquilo que o rodeia os sinais do mal, do egoísmo e do pecado. É solidário com quem sofre, com quem chora, com quem está marginalizado, com quem se sente desesperado. Ao mesmo tempo, porém, o cristão aprendeu a ler tudo isso à luz da Páscoa, com os olhos de Cristo Ressuscitado, e sabe que o presente é tempo de expectativa, tempo animado por um anseio que vai para além do presente.

Na esperança, sabemos que o Senhor quer curar definitivamente, com a sua misericórdia, os corações feridos e humilhados e aquilo que o homem deturpou com a sua impiedade, tudo regenerando num mundo novo e numa humanidade nova reconciliados finalmente no seu amor.

A mensagem final do Papa foi de esperança: “Quando somos tentados pelo desânimo, pelo pessimismo, caindo em inúteis lamentações ou ficando sem saber que pedir ou esperar, vem em nosso auxílio o Espírito Santo, que mantém vivos os gemidos e anseios do nosso coração. O Espírito vê, por nós, para além das aparências negativas do presente e revela-nos já agora os novos céus e a nova terra que o Senhor está preparando para a humanidade”.
Ao final da catequese, o Papa assistiu a uma apresentação circense.

 Ao saudar os grupos presentes na Praça, Francisco fez um apelo especial em prol do Sudão do Sul:
“Provocam particular apreensão as dolorosas notícias que chegam do martirizado Sudão do Sul, onde a um conflito fratricida se une uma grave crise alimentar, que condena à morte por fome milhões de pessoas, entre as quais muitas crianças. Neste momento, é mais necessário do que nunca o empenho de todos a não ficar somente nas declarações, mas a tornar concretas as ajudas alimentares e a permitir que possam chegar às populações sofredoras. Que o Senhor ampare esses nossos irmãos e os que atuam para ajudá-los."

terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Santo franciscano do dia - 21/02 - São Leão Karasuma


Mártir no Japão, coreano, da Terceira Ordem Franciscana (+1597). Canonizado por Pio IX no dia 8 de junho de 1862. 


Leão Karasuma foi o primeiro franciscano da Terceira Ordem no Japão e não tardou a ser um dos mais ativos e dinâmicos cooperadores da missão. Natural da Coréia, descendente duma família nobre, foi encomendado aos sacerdotes budistas pelos pais, para o educarem na sua religião, e chegou e ser um budista. Como tal, foi forte inimigo dos cristãos, ameaçando todos os que, diante dele, se atrevessem a mencionar o nome de Cristo ou a anunciar a sua boa nova. Perseguia os cristãos por todos os meios.

Deus, porém, querendo fazer dele um vaso de eleição, como outrora acontecera com Saulo de Tarso, no caminho de Damasco, dispôs que Leão se transferisse da Coréia para o Japão. Ali aconteceu encontrar-se com um cristão intrépido, que lhe falou de Cristo, do evangelho e da religião cristã com entusiasmo e ousadia. Lentamente, seus olhos foram se abrindo à verdade, e descobriu a divindade de Cristo e a beleza da fé cristã.

Pouco depois chegaram a Meaco os irmãos provenientes das Filipinas, e Leão foi conquistado pelo seu estilo de vida, sobretudo pela pobreza e simplicidade, e pelo ardor da sua pregação evangélica. Depois de prolongada preparação, recebeu o batismo e demais sacramentos, ingressou na Terceira Ordem e tornou-se assíduo colaborador de São Pedro Baptista.

Dirigiu, como técnico, a construção de igrejas e conventos, hospitais e outros edifícios destinados à assistência social. De vez em quando se fazia de arquiteto ou de trabalhador manual das construções. Por conhecer diversas línguas, muitas vezes serviu de intérprete.

O seu exemplo de atividade dinâmica causava muito boa impressão nos pagãos, que se convertiam, e nos cristãos, que o ajudavam nas suas tarefas. Converteu muitos fiéis, entre eles seu irmão mais velho, que veio a ser seu companheiro no martírio. Preso a 31 de dezembro de 1596, foi martirizado em Nagasaki em 5 de fevereiro do ano seguinte, com mais 25 companheiros. Todos foram, em conjunto, canonizados por Pio IX a 8 de junho de 1862.


Fonte: “Santos Franciscanos para cada dia”, Ed. Porziuncola. 

domingo, 19 de fevereiro de 2017

Santo franciscano do dia - 19/02 - São Conrado de Piacenza


Ermitão da Terceira Ordem Franciscana (1290-1351). Urbano VIII aprovou seu culto como santo, no dia 12 de setembro de 1625.


Conrado Confaloniéri nasceu em 1290. Nobre, rico, feliz no casamento, era aficionado pela caça. Um dia em que andava com outros caçadores perseguindo uma presa, vendo-a embrenhar-se num espesso bosque onde lhe era impossível penetrar, resolveu lançar fogo no matagal, para escorraçar o bicho. Sucedeu, porém, que o incêndio não pôde ser extinto nem controlado, alastrando-se e destruindo muitas colheitas e granjas das redondezas. 

Conrado e os cúmplices da façanha entraram na cidade sem serem notados, e não havia nenhuma testemunha que os pudesse acusar dos prejuízos causados involuntariamente. Mas os proprietários lesados denunciaram o caso às autoridades, que fizeram um inquérito e, como resultado, um pobre caseiro, que vivia nas proximidades do sítio onde se ateara o fogo, foi preso e condenado à morte.

Na praça da cidade, pouco antes da execução do condenado, Conrado não pôde resistir aos remorsos da consciência: reconheceu publicamente ser ele o culpado, embora, até certo ponto, involuntário, e assim, salvou uma vida inocente. Foi então ele condenado, não à morte, mas ao pagamento de todos os danos causados. Cumpriu a sentença vendendo todos os bens próprios e os da esposa.

Desta forma, ficaram os dois absolutamente sem nada, numa miséria total. Mas não se desesperaram, e aceitaram mesmo essa provação como um sinal do céu. Separaram-se de mútuo acordo e enquanto a mulher ingressou no mosteiro das clarissas, no convento de Piacenza, ele emigrou para a Sicília e na vizinhança de Noto encetou uma vida eremítica, fez-se terceiro franciscano e viveu em austeridade e oração durante 36 anos, tornando-se famoso pelo rigor da penitência que se infligia. Às sextas-feiras descia à cidade para visitar doentes no hospital e fazia prolongada oração diante dum célebre crucifixo da catedral. Foi agraciado com o dom dos milagres. Após a morte, que sobreveio aos 61 anos, em 19 de fevereiro de 1351, foi sepultado na catedral onde costumava rezar, e aí é venerado, juntamente com São Nicolau de Bari, como padroeiro da cidade.


Fonte: “Santos Franciscanos para cada dia”, Ed. Porziuncola. 

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

Artigo - Curiosidades sobre a Campanha da Fraternidade


– CNBB
Em alguns dias inicia-se a Quaresma. Com ela, entramos também na Campanha da Fraternidade (CF), uma ação organizada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) que, este ano, tem como tema: “Fraternidade: biomas brasileiros e defesa da vida” e lema: “Cultivar e guardar a Criação” (Gn 2,15).
Selecionamos algumas informações importantes sobre o histórico da campanha, os objetivos, ações concretas, que farão ver como os temas estão sempre ligados ao que o povo de Deus vive no Brasil.

A inspiração dos temas da CF está sempre ligada a problemas concretos pelos quais a sociedade passa. A ideia começou no início da década de 1960, quando padres da Cáritas Brasileira idealizaram um fundo para realizar, como Igreja, atividades assistenciais. O embrião da Campanha que temos hoje ocorreu, pela primeira vez, na Quaresma de 1962 em Natal (RN). Cresceu aos poucos e ganhou o apoio de organismos nacionais e da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.

Foi sob a atmosfera do Concílio Vaticano II que a ideia da Campanha da Fraternidade amadureceu e ganhou forma. “Ainda que, na Igreja, nem todos sigam pelo mesmo caminho, todos são, contudo, chamados à santidade” (Lumen Gentium, n. 32). A grande novidade do Concílio (convocado em 1961 e finalizado em 1965) foi fundamental para que a CF tivesse seu formato definido e amparado teologicamente. Havia ali, naquela época, uma urgência de unidade e missionariedade na vida da Igreja. 

 A Campanha da Fraternidade, no modelo que conhecemos hoje, aconteceu pela primeira vez em 1964 e teve o tema: “Campanha da Fraternidade” e o lema: “Lembre-se: você também é Igreja”. A ideia central era colocar os fiéis em uma posição protagonista diante das obras sociais mantidas pela Igreja.

Ao longo dos mais de 50 anos de história, percebe-se uma intensa ligação entre os temas da CF e a realidade contemporânea. Ao observarmos as fases, fica evidente essa comunhão: nos primeiros anos (1964 a 1972), um caminho de renovação interna, das estruturas e também da mentalidade do povo de Deus. Com início em um ano marcado por revoluções políticas e sociais, os temas seguiram um ritmo de “responsabilidade com o outro”, “reconciliação” e “ser Igreja”. Já na segunda fase, até 1984, a direção vivida foi de denúncia de injustiças como o trabalho escravo, assistência à saúde e o chamado à liberdade do amor. De 1985 até hoje, os temas têm se voltado às realidades existenciais do Brasil: fome, desemprego, a importância da família, drogas, aborto e os males da falta de cuidado com o meio ambiente.

O gesto concreto da Campanha é realizado na coleta da solidariedade. Esta coleta acontece no Domingo de Ramos. Todas as comunidades cristãs católicas e ecumênicas do Brasil se unem neste esforço e arrecadam para o Fundo Nacional de Solidariedade e os Fundos Diocesanos de Solidariedade. 60% dos recursos são destinados ao apoio de projetos sociais da própria comunidade e 40% dos recursos são revertidos para o fortalecimento da solidariedade entre as diferentes regiões do país.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Artigo - O grito de Francisco continua ecoando.



Por Frei Almir Ribeiro Guimarães, Ofm

“É isto que eu quero, isto que desejo de todo o coração!”  Este foi o grito de Francisco depois de ter ouvido o Evangelho do envio dos apóstolos, dois a dois, despojadamente, pelo mundo afora.

 Vamos pedir a Frei Antonin Alis, OFMCap, que nos introduza  no mistério de Francisco:“Por sua exclamação, por seu gesto, Francisco nos convida a levar a sério o  Evangelho.  Antes de tudo numa atitude de verdade com respeito a si mesmo e com o que percebe como  vontade de Deus  para com ele  é que ele agir . O que deve ser feito é aquilo que manda o Evangelho. Uma tal evidência provém do mais profundo de seu ser.

 Abandonando a tudo, começa ele a palmilhar o caminho da conversão. Despoja-se antes de tudo dos bens exteriores, conservando apenas o essencial.  

Progressivamente depois vai se despojar de seu orgulho,  suficiência e  narcisismo. E isso vai durar todo o tempo de sua vida. Começará a percorrer um caminho de serviço, de minorismo, de fraternidade, de tal sorte que vai abandonar todo desejo de poder, de dominação  sobre o que quer que seja, imitando assim Cristo servo. 

Vai se abrindo à ação do Espirito Santo e a seu santo modo de operar, transformando-se a partir do interior. Um tal despojamento, desencadeado  pela escuta da Palavra  vai durar até o final de seus dias, nu sobre a terra nua.  Lentamente, a Palavra nele germina e se torna tão fecunda que faz com que se identifique com seu Senhor e Mestre;  lentamente a Palavra se torna fecunda para os outros, para todos os o escutam e veem  o trabalho do Espírito nele.  

Testemunha,  Francisco o é antes de tudo porque deixa a Palavra transformá-lo por inteiro.  Por tudo isso, ele experimenta a alegria, a verdadeira alegria,  a alegria perfeita que o plenifica e faz com que ele transborde em ação de graças” (Évangile Aujurd’hui, n. 205,  p.  38).

Os franciscanos de hoje, nas novas condições do mundo, buscam escutar o Evangelho com todas as veras de seu coração  não se deixando  instalar nas penúltimas realizações  mas tendo os olhos fixos nesse amanhã  que o  Evangelho pode descortinar.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Papa na Audiência: a esperança cristã é sólida, não decepciona.



Cidade do Vaticano (RV) - A esperança não decepciona: este foi o tema da catequese do Papa Francisco, na Audiência Geral desta quarta-feira (15/02), na Sala Paulo VI, no Vaticano.

Na catequese baseada na Carta de São Paulo aos Romanos, o Pontífice ressaltou que “desde pequenos nos é ensinado que vangloria-se não é uma coisa bonita. Está certo, pois gabar-se do que se é ou do que se tem, além de uma certa soberbia, traz consigo uma falta de respeito pelos outros, especialmente pelas pessoas desfavorecidas”.

Abundância da graça

Nessa passagem da Carta aos Romanos, o Apóstolo Paulo nos surpreende, pois por duas vezes nos exorta a vangloriar-nos. Mas, do que é justo nos vangloriar? Como é possível fazer isso sem ofender, sem excluir ninguém?, perguntou o Papa.
Segundo Francisco, no primeiro caso, somos convidados a nos vangloriar da abundância da graça de Deus que recebemos de Jesus Cristo. 

“Paulo quer nos fazer entender que, se aprendemos a ver os acontecimentos à luz do Espírito Santo, percebemos que tudo é graça! Se prestarmos atenção, quem age na história assim como em nossa vida, não somos nós sozinhos mas é sobretudo Deus. Ele é o protagonista absoluto que cria todas as coisas como um dom de amor, que tece a trama de seu desígnio de salvação, levado à plenitude em Jesus. Quando acolhemos com gratidão essa manifestação do amor de Deus, experimentamos uma paz que se estende a todas as dimensões de nossa vida: Estamos em paz com nós mesmos, estamos em paz na família, em nossa comunidade, no trabalho e com as pessoas que encontramos a cada dia em nosso caminho”, disse ainda o Papa. 

Misericórdia de Deus

“O Apóstolo nos convida também a nos ufanar de nossas tribulações. Isso não é fácil de entender. Trata-se de algo mais difícil e pode parecer que não tenha nada a ver com a condição de paz que acabamos de descrever. Contudo, devemos pensar que a paz que Deus nos oferece não significa ausência de dificuldades, preocupações, desilusões e sofrimentos, mas é um dom que nasce da experiência de sabermos que somos amados por Ele, que sempre nos acompanha e nunca nos abandona. Isso faz com que sejamos pacientes nas tribulações, pois a misericórdia de Deus é maior do que tudo”. 

“Por isso, a esperança cristã é sólida, não decepciona. O seu fundamento não está no que nós podemos ou não fazer, e nem no que podemos crer. O seu fundamento é o que de mais fiel e seguro possa existir, ou seja, o amor de Deus por nós. É fácil dizer: Deus nos ama. Todos dizemos isso. Mas pensem um pouco: cada um de nós é capaz de dizer: Estou certo de que Deus me ama? Não é muito fácil dizer isso. É um bom exercício dizer a si mesmo: Deus me ama. Esta é a raiz de nossa segurança, a raiz da esperança”, sublinhou Francisco.

Vangloriar-se do amor de Deus

“O Senhor infundiu abundantemente em nossos corações o Espírito, que é o amor de Deus, como artífice, como garante, para que possa alimentar dentro de nós a fé e manter vida essa esperança. Deus me ama! Mas neste momento difícil? Deus me ama. E eu que fiz coisas feias e más? Deus me ama. Esta certeza ninguém pode nos tirar e devemos repeti-la como uma oração: Deus me ama. Estou certo de que Deus me ama.”

Agora, compreendemos porque o Apóstolo Paulo nos exorta a nos vangloriar sempre de tudo isso. “Vanglorio-me do amor de Deus, porque Ele me ama. A esperança que nos foi dada não nos separa dos outros, e muito menos me leva a desacreditá-los ou marginalizá-los. Trata-se de um dom extraordinário do qual somos chamados a ser ‘canais’ para todos, com humildade e simplicidade. Então, a nossa maior glória será a de ter como Pai um Deus que não tem preferências, que não exclui ninguém, mas que abre a sua casa a todos os seres humanos, começando pelos marginalizados e distantes, para que como seus filhos aprendamos a nos consolar e nos ajudar reciprocamente”.

Fonte: http://br.radiovaticana.va/

terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Santo Franciscano do dia -14/02 - São Tomás de Nagasaki



Mártir japonês da Terceira Ordem (1582-1597). Canonizado por Pio IX a 8 de junho de 1862. 


Entre os gloriosos mártires de Nagasaki que, no dia 5 de fevereiro de 1597, sofreram como Cristo e por Ele o sacrifício da cruz, contavam-se três terceiros franciscanos ainda muito jovens: Tomás de Nagasaki, de 15 anos, cujo pai também foi mártir; Antônio Ibarki, de 13 anos; e Luís Kosaki, de 11 anos apenas. 

Viviam no seminário franciscano preparando-se para o sacerdócio e levavam vida exemplar ao serviço da Igreja, como acólitos e catequistas para o ensino da doutrina cristã às crianças. Além disso, prestavam outros serviços, de acordo com a idade. Os dois primeiros viviam no convento de Osaka quando foram presos, juntamente com São Martinho da Ascensão. Todos os três eram intrépidos e inabaláveis na fé, a ponto de impressionarem os próprios verdugos.

Fazamburo, governador de Nagasaki, ao vê-los todos contentes a rezarem pai nossos e ave-marias, a louvarem a Deus e a olharem para o céu, comentou: “Quem dá a estes rapazes tanta coragem para enfrentarem o martírio sem medo e até com alegria? E estão ainda na primavera da vida! Que religião é essa, capaz de transformar crianças em heróis? Para eles, a morte parece ser motivo de felicidade!”.

Tomás, filho do mártir Miguel Kosaki, antes de partir para Osaka escreveu à mãe uma carta comovente em que dizia: “Não te aflijas, mãezinha; pelo contrário, considera-te feliz. Não desesperes por mim e por meu pai termos a sorte de morrer por Cristo. Podes crer que no céu nunca te esquecerei, e pedirei ao Senhor que te assista em todas as necessidades e te encha dos seus dons. Consola-te com a certeza de que à hora da morte poderás invocar em teu favor o teu marido e o teu filho, que eles lá no céu escutarão a tua oração, e, pelo sangue que derramaram por Cristo, Ele te fará participante da eterna felicidade. Arrepende-te dos teus pecados e agradece ao Senhor os benefícios recebidos durante a vida, sobretudo o de ter arrancado das garras de Satanás e te ter chamado à luz da fé. Agradece esses dons e conserva-te fiel às promessas do batismo. Alegra-te pelo fato de seres pobre e sem prestígio. Muito mais que as riquezas da terra valem as do céu, e essas ninguém pode roubar. Suporta com paciência as tribulações. Das tuas faltas pede perdão ao Senhor com humildade. Recomendo-te com empenho, querida mãe, os meus irmãos Mâncio e Filipe: procura que eles não se misturem com os pagãos, para não virem a perder o prêmio eterno. Já rezei muito por isso e continuarei a rezar. Peço-te que junte às minhas as tuas orações nesse sentido. Adeus mãezinha! O Senhor te console na vida e nos reúna a todos um dia no paraíso. Sou Tomás, teu filho, prisioneiro de Jesus Cristo”.

Poucos dias mais tarde, sofreu o martírio da cruz esse herói de 15 anos.


Fonte: “Santos Franciscanos para cada dia”, Ed. Porziuncola.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

LEITURA ESPIRITUAL - Que sentido damos ao sofrimento?


Por Frei Almir Guimarães

Neste tempo da Quaresma convém refletir sobre nossos limites e nossas fragilidades. Afinal de contas que sentido andamos dando aos sofrimentos que nos ocorrem?



Normal que nos sintamos preocupados, quase desesperados quando tomamos consciência de determinadas limitações que nos advêm. Pensamos numa enfermidade, no rompimento de um casamento,  na morte de pessoas muito próximas.  Tudo isso leva-nos a sentir quão grande é nossa fragilidade. Há pessoas que, nestas condições, sentem-se inúteis, tomadas de angústia sobretudo quando pensam no futuro, de modo muito  especial os que são tomados por graves enfermidades. Em tais ocasiões discursos incitando-nos à resignação, à “aceitação da vontade de Deus” ou a respeito do valor redentor do sofrimento não nos atingem. Por vezes é preciso percorrer um caminho extenuante antes de vislumbrar qualquer sentido para os sofrimentos que chegam, alguns que permanecem para sempre.

O que dá sentido ao sofrimento não é o fato de sofrer, mas a dificuldade de continuar amando a partir de uma situação de sofrimento. O que dá sentido ao sofrimento, como aquilo que dá sentido à vida, é permanecer em relação com os outros, continuar tentando se  interessar por eles evitando o fechamento do coração.    Tocamos, nesse aspecto, o mistério de cada pessoa. Não existe receita mágica válida para todos.

Deus não se regozija com o sofrimento dos mortais.  Podemos dizer que ele lhes dá alívio. Normalmente, ele o faz através das pessoas que cercam aquele que é presa de um sofrimento. Ele dá uma força para que sejamos capazes de esperar e dar um sentido ao que vivemos.  Isso não acontece magicamente. Tudo vai depender  das etapas da vida que atravessamos, de nossa patologia e do nosso caminhar espiritual.  Necessário paciência e respeito na lenta elaboração de um sentido. As mais das vezes não encontramos as palavras mais adequadas para exprimir o que nos aflige e para consolar os que sofrem. Há medos difíceis de serem verbalizados. A experiência diz que muitas vezes nos encontramos sozinhos com nosso sofrimento, mesmo com o empenho generoso daqueles que nos cercam.  Há momentos em que somos capazes de “suportar”, sem desesperar, nada mais: ou seja, conviver com o sofrimento. Em todo esse caminho descobrimos que existe em nós reservas de vitalidade, de vida que até então não havíamos suspeitado.

Há doentes que confessam que encontram sentido em seu sofrimento na medida em que os oferecem pelos outros.  Contemplando Cristo na cruz, oferecem-se por eles para que possam ter vida. Fazem assim sem deixar de pedir o próprio restabelecimento. Como entender esta expressão: “Oferecer os próprios sofrimentos”?  Muitas vezes, é bem verdade, nada se tem a oferecer senão a própria impotência, como Jó na Bíblia. Em outros momentos oferecer os sofrimentos poderá significar balbucios de confiança ou um frágil desejo de amar.  Em todo caso nunca será questão de alcançar graça por meio de sofrimentos. A graça não se merece.  Não se trata de resgate a pagar nem de sofrimento a ser buscado. Não é essa a oferenda que agrada ao Senhor.

Podemos começar tentando aceitar a situação que se passou a viver e evitar manifestações e sentimentos de revolta, deixando também sentimentos de culpabilidade.  Não centrar tudo unicamente em nossa fragilidade, quando se é submergido pela dor. Não nos fecharmos em nós mesmos. Um passo adiante:  um abertura de coração, muitas vezes tímida, poderá  fazer com  que abandonemos a obsessão  pela cura a todo preço. Claro que tal vai depender do grau de sofrimento que se vive e da desumanização que se experimenta.

A saída do isolamento só é possível para um paciente  na medida em que ele é auxiliado por pessoas que o visitam e conversam delicadamente com ele.

Há, é claro, a oração, o estar com Cristo, haurir do coração de Deus coragem e capacidade de amar. Pelo fato de Jesus nos ter salvo, não   quer dizer que o fez pela quantidade de sofrimento.  Semelhantemente os que sofrem de enfermidade aceitam de alguma forma serem vítimas em solidariedade com a humanidade pecadora e sofredora. No meio de dores e sofrimento nem sempre é fácil rezar.

Há pessoas que optam por um comportamento de intercessão inspirado nos comportamentos de Maria. Ela, exemplo para nós,  esteve ao pé da cruz.


Alguém pode dizer: “Ofereço meu sofrimento pelo mundo”. Não se deve esquecer que é a qualidade de amor que torna nossa oferenda agradável a Deus e não o sofrimento em si mesmo. Podemos assim, com nosso consentimento, entrar no mistério da comunhão dos santos, quer dizer, esta solidariedade na luta contra o mal com as forças do amor,  num mistério de transfiguração do mundo. Podemos descobrir, para surpresa nossa,  que nossa maneira de viver pode ser fecunda para os outros na medida em que conservamos a fé, a abertura do coração e a acolhida do sofrimento dos outros. Poder continuar a  comunicar e dar amor aos outros  é a graça a ser suplicada. Tal dom redunda em graças para os outros. Pessoas sadias se solidarizam com doentes e vivem a dor do que sofre. Sabemos que não é fácil continuar interessando-se pelos outros quando nos sentimos fragilizados.

Nesse contexto cabe lembrar uma experiência feita por muitos.  Encontramos pessoas que, pela qualidade de escuta, acolhimento e maneira de olhar, adivinhamos que tenham enfrentado sérios sofrimentos.  Tais pessoas, passada a tormenta, não são mais capazes de julgar. Descobrem que sua real fecundidade não provém em primeiro lugar de suas competências, diplomas ou dons visíveis, mas às suas feridas, na medida em que elas foram aceitas e por vezes curadas.  O sofrimento faz com que compreendam a sua vida e a dos outros.  A qualidade de escuta, compaixão, ternura paciência que experimentam torna-se  fonte de vida para os outros.

Amar até o ponto de “rasgar-se”, num rasgão que não é mais uma ferida purulenta. Assim, aos poucos podemos ir entrando numa transfiguração de amor, em renovação da aliança, que é muito mais do que um amor de contabilidade, “dou se deres”, rumo  a um amor gratuito. Esse pode ser também caminho de renovação da aliança com o  Bem Amado. Nesse momento, os valores mudança. Aquilo que, no passado, nos parecia tão valioso transforma-se em coisa efêmera.

Tudo que acaba de ser escrito não é evidente, nem previsível.  Ninguém sabe como vai assumir a fragilidade e a diminuição de suas capacidades. Há muitos itinerários e experiências. Cada um deve percorrer seu caminho, como ele pode. Muitas pessoas não conseguem sucesso.  Permanecem na revolta e no desespero. Precisam nesse momento de um respeitoso silêncio e de acolhimento e não de vãs palavras.

Esta reflexão inspirou-se fortemente em
Bernard Ugeux
Traverser nos fragilités
Les Éditions de l’Atelier
Paris  2006, p. 39-42

Santo franciscano do dia - 13/02 - São Francisco de Meaco



Da Terceira Ordem Franciscana, mártir japonês (1551-1597). Canonizado por Pio IX a 8 de julho de 1862. 


Francisco, de nacionalidade japonesa e pais pagãos, nasceu em Meaco em 1551. A família fê-lo estudar medicina, que ele chegou a exercer na sua terra, com grande satisfação dos pacientes. Quando, em 1593, chegou das Filipinas São Pedro Batista com cinco irmãos franciscanos, empreenderam uma vasta obra de evangelização, construindo igrejas, fundando hospitais e outras instituições de assistência a doentes e leprosos. O Doutor Francisco, como médico, ficou impressionado com essa atividade sócio caritativa que teve oportunidade de conhecer e admirar pessoalmente e, também, com a sua frutuosa pregação evangélica.

Após madura reflexão, e um período de catecumenato, pediu o batismo, que recebeu solenemente na presença apenas de pessoas que tinham recebido dele assistência médica. Isto causou profunda impressão. Depois pediu e obteve permissão de ser recebido na Terceira Ordem. E, desde então, passou a prestar assistência gratuita aos doentes nos hospitais fundados pelos missionários. Tornou-se, assim, o “bom samaritano” da missão, tratando os doentes com dedicação e alegria, por reconhecer neles a imagem de Deus, e recordando a afirmação de Jesus no Evangelho, de que Cristo considera como feito a ele o que se faz ao mais humilde dos irmãos.

Ao desencadear-se a perseguição religiosa de 1596, em 31 de dezembro, foi preso em Meaco, num momento em que tratava dos doentes. Por isso, disse aos soldados: “Sou médico e cristão. Todos aqui me consideram e chamam ‘médico dos pobres’. Tenho orgulho dessa denominação. Sempre procurei fazer bem à nossa gente e, se me permitirem, quero continuar a fazê-lo. Mas, como seguidor de Cristo e do seu Evangelho, quero declarar que não há força no mundo, nem sequer a morte, que me faça vacilar na fé”.

Conduzido com outros cristãos intrépidos, foi com eles crucificado em Nagasaki, em 5 de fevereiro de 1597.

Fonte: “Santos Franciscanos para cada dia”, Ed. Porziuncola.

domingo, 12 de fevereiro de 2017

Angelus com o Papa: não instrumentalizar a autoridade de Deus.



Cidade do Vaticano (RV) – O Papa rezou o Angelus com os fiéis e peregrinos neste domingo (12/02), na Praça São Pedro. A partir do Evangelho do dia, Francisco falou sobre Jesus que analisa três aspectos difíceis em que, todavia, é possível realizar plenamente a vontade de Deus "sem cair em formalismos": o homicídio, o adultério e o juramento.

“Aquilo que foi dito na antiga aliança não era tudo: Jesus veio para cumprir e promulgar de maneira definitiva a lei de Deus. Ele manifesta a finalidade original e preenche os aspectos autênticos”, disse o Papa

“Não matarás”

Sobre o mandamento “não matarás”, Jesus afirma que este é violado não somente pelo homicídio efetivo, mas também por aqueles comportamentos que ofendem a dignidade da pessoa humana, incluídas as palavras injuriosas. Claro – prosseguiu o Papa – esta não têm a mesma gravidade e culpabilidade do assassínio, mas se colocam na mesma linha, porque são premissas deste e revelam a mesma maldade.

“Jesus nos convida a não estabelecer uma graduação das ofensas, mas a considerá-las todas danosas, já que partem da intenção de fazer mal ao próximo”, pediu o Pontífice.

Adultério

Uma outra realização é trazida à lei matrimonial. O adultério era considerado uma violação do direito de propriedade do homem sobre a mulher. Jesus, ao contrário – destacou Francisco – vai à raiz do mal. Assim como se chega ao homicídio por meio de injúrias e ofensas, também se chega ao adultério com as intenções de posse em relação a uma mulher que não é a própria esposa.
“O adultério, como o furto, a corrupção e todos os outros pecados, são antes concebidos em nosso íntimo e, uma vez realizada no coração a escolha errada, ganham forma no comportamento concreto”, apontou o Papa.

Juramento, sinal de insegurança

Jesus ainda diz aos seus discípulos de não jurar, já que o juramento é sinal da insegurança e da duplicidade com as quais se desenrolam as relações humanas - disse o Papa.
“Se instrumentaliza a autoridade de Deus para dar garantia às nossas coisas humanas. Em vez, somos chamados a instaurar entre nós, nas nossas famílias e nas nossas comunidades um clima de clareza e confiança recíproca, para sermos sinceros sem recorrer a intervenções superiores para sermos credíveis. A desconfiança e a suspeita recíproca sempre ameaçam a serenidade!”, concluiu Francisco.


Leia na Íntegra
Caros irmãos e irmãs, bom dia!

A liturgia do dia nos apresenta uma outra página do discurso da montanha, que encontramos no evangelho de Mateus. Neste trecho, Jesus quer ajudar que O escuta a realizar uma releitura da lei de Moisés. Aquilo que foi dito na antiga aliança não era tudo: Jesus veio para cumprir e promulgar de maneira definitiva a lei de Deus. Ele manifesta a finalidade original e preenche os aspectos autênticos, e faz tudo isso com sua pregação e mais ainda com a entrega de si mesmo na cruz. Assim, Jesus ensina como realizar completamente a vontade de Deus, com uma “justiça superior” diante daquela dos escribas e fariseus. Uma justiça animada pelo amor, pela caridade, pela misericórdia, e por isso capaz de realizar a substância dos mandamentos, evitando o risco do formalismo.
De modo particular, no Evangelho de hoje Jesus analisa três aspectos: o homicídio, o adultério e o juramento.

Sobre o mandamento “não matarás”, Ele afirma que é violado não somente pelo homicídio efetivo, mas também por aqueles comportamentos que ofendem a dignidade da pessoa humana, incluídas as palavras injuriosas. Claro, esta não têm a mesma gravidade e culpabilidade do assassínio, mas se colocam na mesma linha, porque são premissas deste e revelam a mesma maldade. Jesus nos convida a não estabelecer uma graduação das ofensas, mas a considerá-las todas danosas, já que partem da intenção de fazer mal ao próximo.

Uma outra realização é trazida à lei matrimonial. O adultério era considerado uma violação do direito de propriedade do homem sobre a mulher. Jesus, ao contrário, vai à raiz do mal. Assim como se chega ao homicídio por meio de injúrias e ofensas, também se chega ao adultério com as intenções de posse em relação a uma mulher que não é a própria esposa. O adultério, como o furto, a corrupção e todos os outros pecados, são antes concebidos em nosso íntimo e, uma vez realizada no coração a escolha errada, ganham forma no comportamento concreto.

Jesus ainda diz aos seus discípulos de não jurar, já que o juramento é sinal da insegurança e da duplicidade com as quais se desenrolam as relações humanas. Se instrumentaliza a autoridade de Deus para dar garantia às nossas coisas humanas. Em vez, somos chamados a instaurar entre nós, nas nossas famílias e nas nossas comunidades um clima de clareza e confiança recíproca, para sermos sinceros sem recorrer a intervenções superiores para sermos credíveis. A desconfiança e a suspeita recíproca sempre ameaçam a serenidade!

Que Nossa Senhora, mulher da doce escuta e da obediência jubilosa, nos ajude a nos aproximarmos sempre mais ao Evangelho, para sermos cristãos não “de fachada”, mas de substância! E isso é possível com a graça do Espírito Santo, que nos permite de fazer tudo com amor, e assim realizar totalmente a vontade de Deus.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

Mensagem do Papa Francisco para a Quaresma.



Acompanhe abaixo a mensagem do Papa Francisco para a Quaresma 2017.

Amados irmãos e irmãs!

A Quaresma é um novo começo, uma estrada que leva a um destino seguro: a Páscoa de Ressurreição, a vitória de Cristo sobre a morte. E este tempo não cessa de nos dirigir um forte convite à conversão: o cristão é chamado a voltar para Deus «de todo o coração» (Jl 2, 12), não se contentando com uma vida medíocre, mas crescendo na amizade do Senhor. Jesus é o amigo fiel que nunca nos abandona, pois, mesmo quando pecamos, espera pacientemente pelo nosso regresso a Ele e, com esta espera, manifesta a sua vontade de perdão (cf. Homilia na Santa Missa, 8 de janeiro de 2016).

A Quaresma é o momento favorável para intensificarmos a vida espiritual através dos meios santos que a Igreja nos propõe: o jejum, a oração e a esmola. Na base de tudo isto, porém, está a Palavra de Deus, que somos convidados a ouvir e meditar com maior assiduidade neste tempo. Aqui queria deter-me, em particular, na parábola do homem rico e do pobre Lázaro (cf. Lc 16, 19-31). Deixemo-nos inspirar por esta página tão significativa, que nos dá a chave para compreender como temos de agir para alcançarmos a verdadeira felicidade e a vida eterna, incitando-nos a uma sincera conversão.

1. O outro é um dom

A parábola inicia com a apresentação dos dois personagens principais, mas quem aparece descrito de forma mais detalhada é o pobre: encontra-se numa condição desesperada e sem forças para se solevar, jaz à porta do rico na esperança de comer as migalhas que caem da mesa dele, tem o corpo coberto de chagas, que os cães vêm lamber (cf. vv. 20-21). Enfim, o quadro é sombrio, com o homem degradado e humilhado.

A cena revela-se ainda mais dramática, quando se considera que o pobre se chama Lázaro, um nome muito promissor pois significa, literalmente, «Deus ajuda». Não se trata duma pessoa anónima; antes, tem traços muito concretos e aparece como um indivíduo a quem podemos atribuir uma história pessoal. Enquanto Lázaro é como que invisível para o rico, a nossos olhos aparece como um ser conhecido e quase de família, torna-se um rosto; e, como tal, é um dom, uma riqueza inestimável, um ser querido, amado, recordado por Deus, apesar da sua condição concreta ser a duma escória humana (cf. Homilia na Santa Missa, 8 de janeiro de 2016).

Lázaro ensina-nos que o outro é um dom. A justa relação com as pessoas consiste em reconhecer, com gratidão, o seu valor. O próprio pobre à porta do rico não é um empecilho fastidioso, mas um apelo a converter-se e mudar de vida. O primeiro convite que nos faz esta parábola é o de abrir a porta do nosso coração ao outro, porque cada pessoa é um dom, seja ela o nosso vizinho ou o pobre desconhecido. A Quaresma é um tempo propício para abrir a porta a cada necessitado e nele reconhecer o rosto de Cristo. Cada um de nós encontra-o no próprio caminho. Cada vida que se cruza connosco é um dom e merece aceitação, respeito, amor. A Palavra de Deus ajuda-nos a abrir os olhos para acolher a vida e amá-la, sobretudo quando é frágil. Mas, para se poder fazer isto, é necessário tomar a sério também aquilo que o Evangelho nos revela a propósito do homem rico.


2. O pecado cega-nos

A parábola põe em evidência, sem piedade, as contradições em que vive o rico (cf. v. 19). Este personagem, ao contrário do pobre Lázaro, não tem um nome, é qualificado apenas como «rico». A sua opulência manifesta-se nas roupas, de um luxo exagerado, que usa. De fato, a púrpura era muito apreciada, mais do que a prata e o ouro, e por isso se reservava para os deuses (cf. Jr 10, 9) e os reis (cf. Jz 8, 26). O linho fino era um linho especial que ajudava a conferir à posição da pessoa um caráter quase sagrado. Assim, a riqueza deste homem é excessiva, inclusive porque exibida habitualmente: «Fazia todos os dias esplêndidos banquetes» (v. 19). Entrevê-se nele, dramaticamente, a corrupção do pecado, que se realiza em três momentos sucessivos: o amor ao dinheiro, a vaidade e a soberba (cf. Homilia na Santa Missa, 20 de setembro de 2013).

O apóstolo Paulo diz que «a raiz de todos os males é a ganância do dinheiro» (1 Tm 6, 10). Esta é o motivo principal da corrupção e uma fonte de invejas, contendas e suspeitas. O dinheiro pode chegar a dominar-nos até ao ponto de se tornar um ídolo tirânico (cf. Exort. ap. Evangelii gaudium, 55). Em vez de instrumento ao nosso dispor para fazer o bem e exercer a solidariedade com os outros, o dinheiro pode-nos subjugar, a nós e ao mundo inteiro, numa lógica egoísta que não deixa espaço ao amor e dificulta a paz.

Depois, a parábola mostra-nos que a ganância do rico fá-lo vaidoso. A sua personalidade vive de aparências, fazendo ver aos outros aquilo que se pode permitir. Mas a aparência serve de máscara para o seu vazio interior. A sua vida está prisioneira da exterioridade, da dimensão mais superficial e efémera da existência (cf. ibid., 62).

O degrau mais baixo desta deterioração moral é a soberba. O homem veste-se como se fosse um rei, simula a posição dum deus, esquecendo-se que é um simples mortal. Para o homem corrompido pelo amor das riquezas, nada mais existe além do próprio eu e, por isso, as pessoas que o rodeiam não caiem sob a alçada do seu olhar. Assim o fruto do apego ao dinheiro é uma espécie de cegueira: o rico não vê o pobre esfomeado, chagado e prostrado na sua humilhação.

Olhando para esta figura, compreende-se por que motivo o Evangelho é tão claro ao condenar o amor ao dinheiro: «Ninguém pode servir a dois senhores: ou não gostará de um deles e estimará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e ao dinheiro» (Mt 6, 24).

3. A Palavra é um dom

O Evangelho do homem rico e do pobre Lázaro ajuda a prepararmo-nos bem para a Páscoa que se aproxima. A liturgia de Quarta-Feira de Cinzas convida-nos a viver uma experiência semelhante à que faz de forma tão dramática o rico. Quando impõe as cinzas sobre a cabeça, o sacerdote repete estas palavras: «Lembra-te, homem, que és pó da terra e à terra hás de voltar». De fato, tanto o rico como o pobre morrem, e a parte principal da parábola desenrola-se no Além. Dum momento para o outro, os dois personagens descobrem que nós «nada trouxemos ao mundo e nada podemos levar dele» (1 Tm 6, 7).

Também o nosso olhar se abre para o Além, onde o rico tece um longo diálogo com Abraão, a quem trata por «pai» (Lc 16, 24.27), dando mostras de fazer parte do povo de Deus. Este detalhe torna ainda mais contraditória a sua vida, porque até agora nada se disse da sua relação com Deus. Com efeito, na sua vida, não havia lugar para Deus, sendo ele mesmo o seu único deus.

Só no meio dos tormentos do Além é que o rico reconhece Lázaro e queria que o pobre aliviasse os seus sofrimentos com um pouco de água. Os gestos solicitados a Lázaro são semelhantes aos que o rico poderia ter feito, mas nunca fez. Abraão, porém, explica-lhe: «Recebeste os teus bens na vida, enquanto Lázaro recebeu somente males. Agora, ele é consolado, enquanto tu és atormentado» (v. 25). No Além, restabelece-se uma certa equidade, e os males da vida são contrabalançados pelo bem.

Mas a parábola continua, apresentando uma mensagem para todos os cristãos. De fato o rico, que ainda tem irmãos vivos, pede a Abraão que mande Lázaro avisá-los; mas Abraão respondeu: «Têm Moisés e os Profetas; que os oiçam» (v. 29). E, à sucessiva objeção do rico, acrescenta: «Se não dão ouvidos a Moisés e aos Profetas, tão-pouco se deixarão convencer, se alguém ressuscitar dentre os mortos» (v. 31).

Deste modo se patenteia o verdadeiro problema do rico: a raiz dos seus males é não dar ouvidos à Palavra de Deus; isto levou-o a deixar de amar a Deus e, consequentemente, a desprezar o próximo. A Palavra de Deus é uma força viva, capaz de suscitar a conversão no coração dos homens e orientar de novo a pessoa para Deus. Fechar o coração ao dom de Deus que fala, tem como consequência fechar o coração ao dom do irmão.

Amados irmãos e irmãs, a Quaresma é o tempo favorável para nos renovarmos, encontrando Cristo vivo na sua Palavra, nos Sacramentos e no próximo. O Senhor – que, nos quarenta dias passados no deserto, venceu as ciladas do Tentador – indica-nos o caminho a seguir. Que o Espírito Santo nos guie na realização dum verdadeiro caminho de conversão, para redescobrirmos o dom da Palavra de Deus, sermos purificados do pecado que nos cega e servirmos Cristo presente nos irmãos necessitados. Encorajo todos os fiéis a expressar esta renovação espiritual, inclusive participando nas Campanhas de Quaresma que muitos organismos eclesiais, em várias partes do mundo, promovem para fazer crescer a cultura do encontro na única família humana. Rezemos uns pelos outros para que, participando na vitória de Cristo, saibamos abrir as nossas portas ao frágil e ao pobre. Então poderemos viver e testemunhar em plenitude a alegria da Páscoa.

Vaticano, 18 de outubro de 2016.

Festa do Evangelista São Lucas

Santo Franciscano do dia - 10/02 - São Gil Maria de São José


Religioso da Primeira Ordem (1729-1812). Canonizado por São João Paulo II no dia 2 de junho de 1996. 


Nasceu a 16 de novembro de 1729, em Tarento, numa modesta família de lavradores. Desde criança se distinguiu pela piedade. Aos dez anos, empregou-se numa pequena fazenda, onde granjeou o afeto de todos.

Todas as manhãs, antes do trabalho, ia à Missa, comungava, e ficava algum tempo em oração. O seu trabalho infantil destinava-se a ajudar a família, e teve de aumentar com a morte do pai. Só quando a mãe casou pela segunda vez, ele se sentiu livre desse encargo familiar e pôde realizar o velho sonho de se fazer franciscano.

Em 1754, com a idade de 24 anos, entrou para o noviciado no convento de Galatone e, depois da profissão, foi transferido para o convento de São Pascoal de Nápoles, onde desempenhou os ofícios de cozinheiro, porteiro e, durante 50 anos, de esmoleiro do convento. Dessa humilde tarefa fez uma atividade apostólica, levando a muita gente a alegre mensagem evangélica.

Vida humilde e oculta, de silêncio e oração, de amor ativo e serviço aos irmãos, aos pobres a necessitados, foram seus carismas. A sua presença era apreciada e requisitada à cabeceira dos enfermos e moribundos, a quem preparava para receberem os sacramentos e para uma morte santa. O povo napolitano rodeou-o de veneração e simpatia pela sua mansidão e pelos milagres que o Senhor, por meio dele, realizava com uma relíquia de São Pacoal, que sempre trazia consigo. Também se distinguiu pela devoção para com a Eucaristia e para com a Virgem Maria.

Morreu em Nápoles a 7 de fevereiro de 1812, com 83 anos de idade. Aos irmãos, que lhe assistiam no leito moribundo, disse ao morrer: “Vou para a minha casa! Maria, minha mãe, e São José, conduzi-me ao paraíso, para junto de Jesus”.

Os seus restos mortais tiveram de ficar cinco dias expostos à veneração dos fiéis, que ainda hoje o continuam a venerar com grande devoção.

Fonte: “Santos Franciscanos para cada dia”, Ed. Porziuncola.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Mensagem do Papa para Jornada Mundial do Enfermo.



Por ocasião da XXV Jornada Mundial do Enfermo

“Admiração pelo que Deus faz: “o Todo-Poderoso fez em mim maravilhas” (Lc 1, 49)

Queridos irmãos e irmãs,

No próximo dia 11 de fevereiro, celebrar-se-á em toda a Igreja, e de forma particular em Lourdes, a XXV Jornada Mundial do Doente, sob o tema: «Admiração pelo que Deus faz: “o Todo-Poderoso fez em mim maravilhas” (Lc 1, 49)». Instituída pelo meu predecessor São João Paulo II em 1992 e celebrada a primeira vez precisamente em Lourdes no dia 11 de fevereiro de 1993, tal Jornada dá ocasião para se prestar especial atenção à condição dos doentes e, mais em geral, a todos os atribulados; ao mesmo tempo convida quem se prodigaliza em seu favor, a começar pelos familiares, profissionais de saúde e voluntários, a dar graças pela vocação recebida do Senhor para acompanhar os irmãos doentes. Além disso, esta recorrência renova, na Igreja, o vigor espiritual para desempenhar sempre da melhor forma a parte fundamental da sua missão que engloba o serviço aos últimos, aos enfermos, aos atribulados, aos excluídos e aos marginalizados (cf. João Paulo II, Motu proprio Dolentium hominum, 11 de fevereiro de 1985, 1). Com certeza, os momentos de oração, as Liturgias Eucarísticas e da Unção dos Enfermos, a interajuda aos doentes e os aprofundamentos bioéticos e teológico-pastorais que se realizarão em Lourdes, naqueles dias, prestarão uma nova e importante contribuição para tal serviço.

Sentindo-me desde agora presente espiritualmente na Gruta de Massabiel, diante da imagem da Virgem Imaculada, em quem o Todo-Poderoso fez maravilhas em prol da redenção da humanidade, desejo manifestar a minha proximidade a todos vós, irmãos e irmãs que viveis a experiência do sofrimento, e às vossas famílias, bem como o meu apreço a quantos, nas mais variadas tarefas de todas as estruturas sanitárias espalhadas pelo mundo, com competência, responsabilidade e dedicação se ocupam das melhoras, cuidados e bem-estar diário de todos vós. Desejo encorajar-vos a todos – doentes, atribulados, médicos, enfermeiros, familiares, voluntários – a olhar Maria, Saúde dos Enfermos, como a garante da ternura de Deus por todo o ser humano e o modelo de abandono à vontade divina; e encorajar-vos também a encontrar sempre na fé, alimentada pela Palavra e os Sacramentos, a força para amar a Deus e aos irmãos mesmo na experiência da doença.

Como Santa Bernadete, estamos sob o olhar de Maria. A jovem humilde de Lourdes conta que a Virgem, por ela designada «a Bela Senhora», a fixava como se olha para uma pessoa. Estas palavras simples descrevem a plenitude dum relacionamento. Bernadete, pobre, analfabeta e doente, sente-se olhada por Maria como pessoa. A Bela Senhora fala-lhe com grande respeito, sem Se pôr a lastimar a sorte dela. Isto lembra-nos que cada doente é e permanece sempre um ser humano, e deve ser tratado como tal. Os doentes, tal como as pessoas com deficiências mesmo muito graves, têm a sua dignidade inalienável e a sua missão própria na vida, não se tornando jamais meros objetos, ainda que às vezes pareçam de todo passivos, mas, na realidade, nunca o são.

Bernardete, depois de estar na Gruta, graças à oração, transforma a sua fragilidade em apoio para os outros; graças ao amor, torna-se capaz de enriquecer o próximo e sobretudo oferece a sua vida pela salvação da humanidade. O fato de a Bela Senhora lhe pedir para rezar pelos pecadores lembra-nos que os doentes, os atribulados não abrigam em si mesmos apenas o desejo de curar, mas também o de viver cristãmente a sua existência, chegando a doá-la como autênticos discípulos missionários de Cristo. A Bernadete, Maria dá a vocação de servir os doentes e chama-a para ser Irmã da Caridade, uma missão que ela traduz numa medida tão elevada que se torna modelo que todo o profissional de saúde pode tomar como referência. Por isso, peçamos à Imaculada Conceição a graça de saber sempre relacionar-nos com o doente como uma pessoa que certamente precisa de ajuda – e, por vezes, até para as coisas mais elementares – mas também é portadora do seu próprio dom que deve partilhar com os outros.

O olhar de Maria, Consoladora dos aflitos, ilumina o rosto da Igreja no seu compromisso diário a favor dos necessitados e dos doentes. Os preciosos frutos desta solicitude da Igreja pelo mundo dos atribulados e doentes são motivo de agradecimento ao Senhor Jesus, que Se fez solidário conosco, obedecendo à vontade do Pai até à morte na cruz, para que a humanidade fosse redimida. A solidariedade de Cristo, Filho de Deus nascido de Maria, é a expressão da omnipotência misericordiosa de Deus que se manifesta na nossa vida – sobretudo quando é frágil, está ferida, humilhada, marginalizada, atribulada –, infundindo nela a força da esperança que nos faz levantar e sustenta.

Uma riqueza tão grande de humanidade e de fé não deve ficar perdida, mas sim ajudar-nos a enfrentar as nossas fraquezas humanas e, ao mesmo tempo, os desafios presentes em âmbito sanitário e tecnológico. Por ocasião da Jornada Mundial do Doente, podemos encontrar novo impulso a fim de contribuir para a difusão duma cultura respeitadora da vida, da saúde e do meio ambiente; encontrar um renovado impulso a fim de lutar pelo respeito da integridade e dignidade das pessoas, inclusive mediante uma abordagem correta das questões bioéticas, a tutela dos mais fracos e o cuidado pelo meio ambiente.

Por ocasião da XXV Jornada Mundial do Doente, reitero a minha proximidade feita de oração e encorajamento aos médicos, enfermeiros, voluntários e a todos os homens e mulheres consagrados comprometidos no serviço dos doentes e necessitados; às instituições eclesiais e civis que trabalham nesta área; e às famílias que cuidam amorosamente dos seus membros doentes. A todos, desejo que possam ser sempre sinais jubilosos da presença e do amor de Deus, imitando o testemunho luminoso de tantos amigos e amigas de Deus, dentre os quais recordo São João de Deus e São Camilo de Lélis, Padroeiros dos hospitais e dos profissionais de saúde, e Santa Teresa de Calcutá, missionária da ternura de Deus.

Irmãs e irmãos todos – doentes, profissionais de saúde e voluntários –, elevemos juntos a nossa oração a Maria, para que a sua materna intercessão sustente e acompanhe a nossa fé e nos obtenha de Cristo seu Filho a esperança no caminho da cura e da saúde, o sentido da fraternidade e da responsabilidade, o compromisso pelo desenvolvimento humano integral e a alegria da gratidão sempre que Ele nos maravilha com a sua fidelidade e a sua misericórdia:

Ó Maria, nossa Mãe,
que, em Cristo, acolheis a cada um de nós como filho,
sustentai a expectativa confiante do nosso coração,
socorrei-nos nas nossas enfermidades e tribulações,
guiai-nos para Cristo, vosso filho e nosso irmão,
e ajudai a confiarmo-nos ao Pai que faz maravilhas.

A todos vós, asseguro a minha recordação constante na oração e, de coração, concedo a Bênção Apostólica.

Vaticano, 8 de dezembro – Festa da Imaculada Conceição – de 2016.