segunda-feira, 12 de junho de 2017

Especial - Santo Antônio, de Lisboa, de Pádua e do mundo inteiro.


Um dos sermões  e alguns pensamentos de Santo Antônio.


Um dos sermões de Santo Antônio


O tentador aproximou-se de Jesus e disse-lhe: “Se és Filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pães” (Mt 4,3). O diabo em circunstâncias semelhantes procede de maneira semelhante. Com a mesma tática com que tentou Adão no paraíso terrestre, tentou também a Cristo no deserto e continua tentando qualquer cristão neste mundo. Tentou o primeiro Adão pela gula, pela vanglória e pela avareza e, tentando-o, venceu-o. Ao segundo Adão, isto é, Cristo, ele tentou de maneira semelhante, mas no foi vencido no seu intento porque quem ele tentava então não era somente um homem, mas era também Deus! Nós, que somos participantes de ambos, do homem segundo a carne e de Deus segundo o espírito, despojemo-nos do homem velho com suas obras que são a gula, a vanglória e a avareza e vistamo-nos do homem novo, renovados pela confissão, para frearmos, com o jejum, o desenfreado ardor da gula, para abatermos, com a humildade da confissão, a altura da vanglória, para pisarmos, com a contrição do coração, o denso lodo da avareza. “Bem aventurados, diz o Senhor, os pobres em espírito”, isto é, os que têm o espírito dolorido e o coração contrito, “porque deles é o reino dos céus” (Mt 5,3). 

Procure ainda observar que, assim como o diabo tentou de gula o Senhor no deserto, de vanglória no templo, de avareza no cimo do monte, assim também faz conosco todos os dias: tenta-nos de gula no deserto do jejum, de vanglória no templo da oração e do ofício, de tantas formas de avareza no monte dos nossos cargos. Enquanto fazemos jejum, ele nos sugere a gula, com a qual pecamos em cinco maneiras, como diz o verso: “antes do tempo, abundantemente, demais, com voracidade e com delicadeza exagerada” (São Gregório). 

ANTES DO TEMPO, isto é, quando se come antes da hora;  ABUNDANTEMENTE, quando se excita a gulosice da língua e se quer aumentar um apetite fraco com temperos, especiarias e toda espécie de comida; DEMAIS, quando se come mais comida do que o corpo necessita; pois dizem alguns gulosos: temos que fazer jejum, então vamos comer para suprir de uma só vez tanto o almoço quanto a janta. Estes são como o bicho-da-seda que não sai da árvore em que está até não devorá-la completamente. O “bruco” (bicho-da-seda) é chamado assim porque é feito quase só de boca e simboliza muito bem os gulosos que são tudo, gula e barriga, e assaltam o prato como se fosse uma fortaleza e não o deixam se antes não o devoraram todo: ou se estoura a barriga ou se esvazia o prato! COM VORACIDADE quando o homem se joga sobre qualquer comida como se fosse assaltar uma fortaleza, abre os braços, estica as mãos, come com todo seu corpo; à mesa é como um cão que, na comida, não quer ter rivais. COM DELICADEZA EXAGERADA quando se procura só comidas deliciosas e preparadas com grande esmero.

Como se lê no primeiro livro dos Reis, sobre os filhos de Heli, que não queriam aceitar a carne cozida, mas só a crua, para poderem prepará-la com mais temperos e outras iguarias. Semelhantemente, o diabo nos tenta de vanglória no templo. Com efeito, enquanto estamos em oração, enquanto recitamos o ofício e estamos ocupados na pregação, somos assaltados pelo diabo com os dardos da vanglória e, infelizmente, muitas vezes feridos. 

Existem efetivamente alguns que, enquanto oram e dobram os joelhos e soltam suspiros, querem ser vistos. E há outros que, quando cantam em coro, modulam a voz, fazem falsetes e desejam ser ouvidos. Enfim, há também os que, quando pregam, elevam a voz como trovão, multiplicam as citações, interpretam-nas a seu modo, giram-se pra cá e pra lá e desejam ser louvados. Todos esses mercenários – acreditem-me – “já receberam sua recompensa” (Mt 6,2) e colocaram sua filha no prostíbulo. Diz Moisés no Levítico: “Não profanes a tua filha, fazendo-a prostituir-se” (19,29). Filha minha é a minha obra e eu a prostituo, quer dizer, a coloco no prostíbulo quando a vendo pelo dinheiro da vanglória. Por isso é que o Senhor nos aconselha: “Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto e, fechando tua porta, ora ao teu Pai que está lá no segredo” (Mt 6,6). Tu, quando quiseres rezar ou fazer alguma coisa de bom – e é nisto que consiste o “orar sem cessar” – entra em teu quarto, isto é, no segredo do teu coração, e fecha a porta dos cinco sentidos para não desejar nem ser visto nem ser escutado nem ser louvado. Com efeito, diz Lucas (1,9) que Zacarias entrou no templo do Senhor na hora do incenso. No tempo da oração ‘que se eleva à presença do Senhor como o incenso’ (Salmo 140,2). Tu deves entrar no templo do teu coração e orar ao teu Pai e “o teu Pai, que vê no segredo, te recompensará” (Mt 6,6). Além disso, do alto dos nossos encargos, da nossa passageira dignidade, somos tentados a cometer muitos pecados de avareza. Não existe só a avareza do dinheiro, mas também aquela do querer ser mais do que os outros. Os avarentos, mais têm mais desejam possuir.

Aqueles que ocupam altos postos, quanto mais sobem mais querem subir e assim acontece que caem com numa queda muito mais ruidosa, já que “os ventos sopram mais nos lugares altos” (Ovídio) e “aos ídolos é que são oferecidos sacrifícios nas alturas” (4 Reis 12,3). Diz Salomão a propósito: “O fogo não diz nunca: basta!” (Prov 30,16). O fogo, quer dizer, a avareza do dinheiro e das honrarias não diz nunca: basta! Mas o que é que diz então? “Mais, mais!” þ Senhor Jesus, tirai, tirai estes dois “mais, mais” dos prelados de vossa Igreja, que se pavoneiam no alto de suas dignidades eclesiásticas e gastam o vosso patrimônio, por Vós conquistado com os tapas, com as flagelações, com as cusparadas, com a cruz, com os cravos, com o vinagre, com o fel e a lança. Nós, portanto, que somos chamados cristãos por causa do nome de Cristo, imploramos todos juntos, com a devoção da alma e ao mesmo Jesus Cristo, e pedimos insistentemente que ele, do espírito de contrição, nos faça chegar ao deserto da confissão, a fim de que, nesta Quaresma, mereçamos receber o perdão de todas as nossas maldades e, renovados e purificados, nos tornemos dignos de gozar da alegria da sua santa Ressurreição e ser colocados na glória da felicidade eterna. No-lo conceda Aquele a quem se deve toda honra e toda glória por todos os séculos dos séculos. Amém.

Tradução: Frei Geraldo Monteiro, OFM Conv


Pensamentos de Santo Antônio.

1. A vida contemplativa não foi instituída por causa da ativa, mas a vida ativa por causa da contemplativa.

2. A fé se compara ao peixe. Assim como o peixe é batido pelas freqüentes ondas do mar, sem que morra com isso, também a fé não se quebra com as adversidades.

3. Quem está cheio das glórias do mundo se assemelha à bexiga que, cheia de vento, parece maior do que é; basta uma picadinha da agulha da morte e se verá o pouco que é.

4. Não é o temor que faz o servo nem é o amor que faz o livre; mas antes o temor é que faz o livre, o amor que faz o servo.

5. Em todo o corpo do homem o diabo não encontra nenhum membro tão conveniente para ser caçado, para espiar, para enganar, como o coração, porque dele procede a vida.

6. A paciência é melhor maneira de vencer.

7. Quanto mais profundamente lançares o alicerce da humildade, tanto mais alto poderás construir o edifício.

8. Jerusalém tinha uma porta chamada “Buraco da Agulha”, pela qual não podia entrar um camelo, porque era baixa. Esta porta é Cristo humilde, pela qual não pode entrar o soberbo ou o corcunda avarento. Aquele que pretende entrar por ela tem de se humilhar.

9. Maria não afugenta nenhum pecador, antes, recebe a todos os que se refugiam nela e, por isso, é chamada Mãe de Misericórdia: é misericordiosa para com os miseráveis, é esperança para os desesperados.

10. O coração profundo é o coração do que ama, do que deseja, do contemplativo, do desprezador das coisas inferiores. Quando te aproximas de tal coração com passos devotos. Deus é exaltado, não em si, mas em ti; a sua exaltação é a intensidade do teu amor, é a elevação do teu espírito.

11. Feliz aquele que arranca de si o coração de pedra e toma um coração de carne, capaz de se doer compungido das misérias dos pobres, de modo que a sua compaixão lhe sirva de consolo e este consolo lhe dissipe a avareza.

12. Oscula com a boca a própria mão quem louva o que faz.

13. Acredita o estulto no conselho da raposa, fiado em que o bem transitório e mutável seja verdadeiro e duradouro.

14. Não poderás levar os fardos de outrem, se não depuseres primeiro os teus. Alivia-te primeiro dos teus, e poderás levar os fardos de outrem.

15. O que o Senhor faz em nós com a nossa cooperação é maior do que tudo o que faz sem nós.

16. Assim como o vento que entra pela boca aberta não mata a sede, mas aumenta-a mais, o mesmo sucede com a vaidade da dignidade.

17. Assim como a flor, quando espalha o odor, não se corrompe, também o verdadeiramente humilde não se eleva quando louvado pelo perfume da sua vida de bondade.

18. A mentira reside na língua, o roubo na mão, as extorsões no coração.

19. Aquele que segue a outro no caminho, não olha para si, mas para aquele a quem constituiu guia da sua vida.

20. Antes de entrar um raio de sol em casa, não aparece dentro, no ar, o pó; se, porém, entrar um raio de sol, parece cheia de pó.

21. Todo enfermo diz: Amarga é a poção para os que a bebem, mas quando se afastar a enfermidade, então se gloriará.

22. O insensato, como um asno, ouve somente o som da palavra divina, mas o sábio percebe-lhe a força e leva-a ao coração.

23. Dizem que o filho da cegonha ama tanto o pai que, ao vê-lo envelhecer, sustenta-o e alimenta-o. Isso faz por instinto. Também nós devemos sutentar o nosso Pai nos seus membros débeis e doentes e alimenta-los nos pobres e necessitados.

24. A soberba, para não ser desprezada, procura encobrir-se na preciosa humildade.

25. Usa mais vezes os ouvidos do que a língua.

26. O hipócrita se assemelha ao pavão: ao ser provocado pelas crianças, mostra o esplendor das suas penas e, quando faz rodar a cauda, descobre torpemente o traseiro.

Pensamentos extraídos do livro “Ensinamentos e Admoestações”, da Editora Vozes; e “Obras Completas de Santo António de Lisboa”, Editorial Restauração, Lisboa.

sábado, 10 de junho de 2017

Especial - Santo Antônio, de Lisboa, de Pádua e do mundo inteiro


O poder da bênção de Santo Antônio.

Reflexão de Frei Vitório Mazzuco Filho.

Todas as terças-feiras, e especialmente agora em junho na Trezena, aparece de um modo forte e devocional a maravilhosa bênção de Santo Antônio: 


“Eis a Cruz do Senhor, afastem-se para longe de vós todos os inimigos da salvação. Venceu o Leão da Tribo de Judá, Jesus Cristo, Nosso Senhor! Em nome do Pai, do Filho e do Espirito Santo!”. 

Não é uma fórmula apenas pronunciada entre os murmúrios das preces, olhos fechados e braços abertos do povo devoto. Não é uma prática repetitiva e vazia, mas sim um gesto visível da maravilha que é a generosidade divina, e a qualidade religiosa da admiração que essa bondade do Senhor causa nas pessoas, através da bondosa presença de Santo Antônio. A bênção é um dom que atinge a vida e seu mistério. É a bendição! É preciso dizer o que vem das fontes do bem; algo que não depende apenas da ação humana, mas precisa do poder de Deus.

A bênção é dom criador e vivificante, reproduz em forma de preces e ação de graças, a graça de Deus manifestada. É doação! É a beraká, um verdadeiro presente, uma troca de bens e de dons; um desejo de vida e felicidade. A bênção é a saudação do caminho, cortesia, exclamação de alegria diante da força de sentir-se escolhido. Santo Antônio é o santo da mediação, esta ponte de ligação para tocar e ver a terna, paterna, materna e afetiva presença de Deus. 

Santo Antônio é lírio e pão, este modo bem caseiro de Deus nos dizer: “Eu te dou a minha bênção"! Na tradição franciscana e antoniana de todas as terças-feiras, e agora neste tempo das Trezenas de Santo Antônio, é muito bom unir-se ao povo, que de um modo muito simples busca pelo poder da bênção, reconstruir a sua vida às vezes tão despedaçada, olhando ternamente o seu Santo amado, escrevendo bilhetes e cartinhas para ele, acreditando firmemente que ele lê e responde! É um tempo de ladainha, procissão, cantos, festa e certezas. Tempo em que multidões acorrem às igrejas dedicadas a Santo Antônio. Recebem uma chuva de água benta, contam seus milagres, fazem pedidos, entregam seu coração para que o Santo dê um jeito neste modo tão humano, simples e divino que é o Amor. Santo Antônio, rogai por nós! Intercedei a Deus por nós!


Frei Vitório Mazzuco, OFM

Fonte: http://carismafranciscano.blogspot.com.br/

sexta-feira, 9 de junho de 2017

Especial - Santo Antônio, de Lisboa, de Pádua e do mundo inteiro


Homem do Evangelho e da Solidariedade 

Fernando nasceu em Lisboa, Portugal, em 15 de agosto de 1191. Seus pais eram de nobre linhagem: Fernando Martins Afonso de Bulhões e Maria Taveira. Moravam bem de frente à catedral. Nessa escola episcopal, Fernando recebeu a instrução cristã e elementar. Adolescente ainda entrou para o seminário dos Cônegos Regulares de Santo Agostinho, de onde ele mesmo pediu transferência para Coimbra (a quase 200 quilômetros de distância) a fim de continuar seus estudos. com mais sossego, sem a atrapalhação das contínuas visitas de parentes e amigos que queriam persuadi-lo a desistir da “sua” vocação. Fernando era um jovem que sabia o que queria: dedicar-se de corpo e alma a Deus e aos estudos da Bíblia Sagrada. Na cidade universitária – Coimbra ­porém, ele encontrou uma outra dificuldade no seu desejo de seguir em radicalidade a Palavra de Deus.

 Na época, o mosteiro de Santa Cruz, onde morava e estudava, era palco de intrigas, fuxicos e brigas por bens materiais entre prelados e reis, monges e leigos. Fernando se empenhou fortemente por estar alheio a toda essa dura, mas triste realidade. Mais do que nunca, dedicou-­se a seus estudos escriturísticos e ao seu crescimento espiritual. Um dia encontrou-se com 5 frades franciscanos. Amor à primeira vista: viu neles todo o Evangelho vivido na simplicidade, na alegria, na humildade e na generosidade.

Estavam de saída para Marrocos, para pregar a “PAZ” e o “BEM”, como dizia o fundador deles, Francisco de Assis, ainda vivo, na Itália. Tempos depois, diante das relíquias dos 5 primeiros mártires franciscanos, Fernando não teve mais dúvidas: trocou todo aquele aparato clerical cheio de hipocrisia que ele conhecia pela simplicidade do Evangelho vivido na fraternidade e no anúncio do Reino de Deus a povos pagãos. Trocou até o nome. De Fernando passou a ser chamado Antônio, frei Antônio e, jovem ainda, teve um só desejo: morrer mártir como aqueles 5 frades e “merecer, assim, junto com eles, a coroa da glória.”

Não havia soado ainda, a hora de Deus! O homem propõe. Deus dispõe. Uma febre sem tamanho, na África, deixou-o prostrado meses na cama. Aos poucos também aprende ­com que fadiga! – a seguir o projeto de Deus. Decide voltar a Portugal, sua ter­ra natal. Qual novo Pentecostes, porém, os ventos sopram seu navio na direção da Itália e ali ele começa co­locar-se definitiva­mente nos passos de Deus. Na grande reunião dos frades (3.000) em Assis, encontra-se com Francisco, com milhares de irmãos que segui­am o mesmo ideal e, mais tarde, com Clara de Assis…

 Mu­dança radical na sua vida, no seu desejo. Antônio não toma mais ‘ a iniciativa ­talvez pela decisão dura e pedagógica de Marrocos -, mas se entrega incondicionalmente, embora também com certo medo, nas mãos de Deus. Terminada a grande assembléia, em maio de 1221, escolhe o silêncio: nada mais diz sobre sua preparação, seus estudos, sua competência. Ninguém o conhece. Ninguém se interessa por ele. “As almas humildes – escreverá mais tarde com conhecimento de causa -, desconhecidas e felizes por serem esquecidas, são aquelas que imitam mais perfeitamente a vida escondi­da de Jesus de Nazaré” (Sermões). E, assim, a pedido de frei Graciano, ministro provincial da Romanha, no centro da Itália, lá vai frei Antônio fazer parte de um conventinho eremitério  situado no cimo do Monte Paulo. Como sacerdote, reza missa aos confrades, mas faz outros serviços necessários à comunidade, como lavar pratos, cuidar da horta, da limpeza, etc.

Dedica-se a longos tempos de oração – contemplação, jejum e penitência. “Em águas turvas, escreverá mais tarde, não se vê espelhado o próprio rosto. Se quiseres que o rosto de Cristo se espelhe em ti, sai do barulho das coisas e guarda tranqüila tua alma “(Sermões).

Finalmente chega a hora de Antônio, que é a hora de Deus. Na cidade de Forli, durante uma ordenação sacerdotal, na catedral lotada de padres, irmãs, freis e fiéis, é convocado pelo superior a fazer a pregação. Daqueles lábios há tanto tempo calados surgem, de repente, como de uma fonte viva de água cristalina, as palavras mais comoventes, os exemplos mais convincentes, os estímulos mais penetrantes. Todos, do bispo ao provincial frei Graciano, dos frades às irmãs, dos padres aos fiéis, to­dos ficam admirados pela eloqüência, pela sabedoria e pela profundidade daquele frade até então desconhecido. Dali para frente, todos chamam a frei Antônio e ele passa a percorrer as estradas, sobretudo as do norte da Itália e as do sul da França e, nos últimos anos, (1229-1231), os caminhos de Pádua, anunciando o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Percorrendo as estradas da Europa, frei Antônio percebe a fraqueza do povo na prática da fé, vítima às vezes das inúmeras heresias e erros da época. Francisco o admira e envia-lhe um bilhete pedindo que a mesma sabedoria que lhe deu uma profunda experiência de Deus, ele a transmita a seus confrades.
“A frei Antônio, meu bispo: Saudações! Muito me agrada que tu ensines a sagrada teologia aos frades, contanto que não se extinga o espírito da santa oração e devoção ao qual tudo deve estar submisso, conforme está escrito na Regra frei Francisco”.

Coisa admirável, maravilhosa. Antonio unia em si a sabedoria e a humildade, a cultura e a simplicidade, a oração e a caridade. Confrades e povo o “adoravam” nesse sentido. Tão alto em sua cultura e tão simples no trato com a gente, Doutor da Igreja e amigo dos simples e dos pobres! E o povo ouve suas palavras. Segue seus conselhos. Sente­-se reconfortado em suas lutas. Crianças são por ele abraçadas e abençoadas. Mulheres e esposas são defendidas em seus direitos. Lares são reunidos pela força do amor que ele tão bem sabe suscitar.

E o povo continua a contar: “a mula se ajoelhou diante da Eucaristia. O coração avarento foi encontrado no cofre do seu tesouro. Ele curou o pé decepa­do de um jovem. Ele pregou aos peixes. Ele defendeu os agricultores diante do terrível Ezzelino da Romano…’

E, assim, passou frei Antônio seus últimos anos, curando e consolando os outros e tendo, para si, cansaço, doenças e penitência. Após uma intensa atividade de pregações e confissões de Quaresma em Pádua, retira-se na tranqüilidade da localidade de Camposampiero.

Mas, em junho de 1231, sente as forças faltarem-lhe completamente. Pede para voltar a Pádua. Percorre os 20km em carro de boi, moribundo. Em Arcella, às portas da cidade de Pádua, num quartinho humilde do convento das Irmãs Clarissas Franciscanas, exala o último suspiro, cantando com voz tênue: “Gloriosa Senhora – sobre as estrelas exaltada – alimentaste em teu seio Aquele que te criou”. Olhando um ponto fixo, consegue ainda exclamar: “Estou vendo o meu Senhor”. E morre. Não chegara aos 40 anos. Onze meses depois, em 30 de maio de 1232, na catedral de Espoleto, Itália, foi proclamado Santo pelo papa Gregório IX.

Mensageiro de Santo Antônio – Junho de 1999